#AgoraÉQueSãoElas https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br Um espaço para mulheres em movimento Wed, 15 Apr 2020 11:52:04 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 A luz que vem de fora https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/07/16/a-luz-que-vem-de-fora/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/07/16/a-luz-que-vem-de-fora/#respond Mon, 16 Jul 2018 13:50:03 +0000 https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/politica-678x381-320x213.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1513 *Por Jandira Feghali

Nem tudo tem sido derrota nas terras de sangue latino. Tal qual o rubro das bandeiras da esquerda, México e Espanha viraram poderosos holofotes vermelhos na escuridão que sombreia Brasil, Argentina e tantas outras nações amortecidas pela direita política. A lição democrática que chegou aos governos da Espanha e México, com os líderes Pedro Sanchez e López Obrador mostrou ao mundo que é necessário se fazer política sim com paridade de gênero. O México ainda teve a façanha de eleger a primeira mulher como comandante da Cidade do México, a física e engenheira elétrica Claudia Sheinbaum. Por sua vez, Pedro tem maioria de mulheres em seu governo e Obrador formou metade de seu gabinete principal com elas. Que exemplo!

Realidades bem distantes do Brasil, é claro, que ocupa o 161° lugar em ranking da presença de mulheres no Poder Executivo, segundo o Projeto Mulheres Inspiradoras de 2018. A derrubada da presidenta Dilma Rousseff (primeira mulher eleita presidente em nossa História), em 2016, num golpe parlamentar, deu ao nosso país essa vitrine vergonhosa de Temer e sua corja. Hoje, um governo majoritariamente masculino, branco, rico, e envolvido em escândalos de corrupção. Cheira a mofo, atraso e aspirante à colônia de império, não só na teoria, como na prática. Pobre país o nosso!

O frescor que emana dos países que valorizam a participação das mulheres na política tem que ser fortalecido por aqui também. As eleições de outubro precisam resgatar a realidade brasileira, onde mais da metade da nossa população é composta por mulheres. Por que sermos apenas 10% do Parlamento se somos milhões no Brasil? Dá pra manter este estado de coisas? Quantas mulheres formidáveis e representativas poderiam estar eleitas e promovendo a política como ferramenta maior de transformação social? Precisamos mudar o perfil do poder em todas as esferas através do voto e de ocupações políticas, que superem a desigualdade e enfrentem a opressão de gênero. Coragem, ousadia e luta! Vamos nessa, mulheres!

Uma poderosa campanha da sociedade civil organizada, de coletivos feministas e da mídia independente, batizada de “Campanha de Mulher” (www.campanhademulher.org), tem levantado essa questão com força ao divulgar pré-candidatas em todos os estados. Ações como essa, se fortalecidas e abraçadas pela população, poderão mudar o horizonte de 2019.

Desde a redemocratização, caminhamos muito até aqui. Na Câmara dos Deputados criamos a bancada feminina – um dia já batizada pejorativamente de “bancada do batom” – e lutamos fortemente para que temas ligados à saúde, educação, trabalho e direitos de gênero fossem melhor analisados no Congresso Nacional. A Lei Maria da Penha, um enorme avanço legislativo que pude escrever seu texto final, virou realidade e hoje protege milhões de brasileiras. Até a cota de 30% em participação feminina nas eleições, da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB/AM), chegou a ser aprovada no Senado Federal, restando decisão final da Câmara. São exemplos de que nunca foi fácil, mas tivemos muitas vitórias nesse caminho. E sempre fomos poucas… imagina se essa realidade fosse diferente? O quanto já teríamos conquistado em Brasília e nas assembleias legislativas Brasil a fora?

Que outubro responda à renovação política que tocou o México e a Espanha. Para avançarmos mais, para chegarmos mais longe. Juntas.

*Jandira Feghali é médica, deputada federal (PCdoB/RJ) e relatora da Lei Maria da Penha

]]> 0 Um retrato da mídia contra as mulheres na política https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/07/09/um-retrato-da-midia-contra-as-mulheres-na-politica/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/07/09/um-retrato-da-midia-contra-as-mulheres-na-politica/#respond Mon, 09 Jul 2018 15:54:51 +0000 https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/WhatsApp-Image-2018-07-09-at-12.15.27-320x213.jpeg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1501


por Lisete Arelaro*

 

Há pouco tempo atrás, ainda no século XX, pensar que uma mulher poderia ocupar espaços de poder na política era algo inimaginável para a maioria da população. Felizmente, décadas de luta das mulheres por direitos, liberdade, igualdade e representatividade mudaram esse quadro e hoje a pauta do protagonismo feminino é evidente em todos os espaços. Nas eleições deste ano, a participação das mulheres e a identificação com a pauta feminista é tema de destaque.

 

Aos que ignoram essa presença e este debate vejo duas possibilidades: uma alienação completa aos temas da atualidade ou uma ação intencional pela manutenção da supremacia masculina, sobretudo nos espaços de poder e decisão.

 

Parte da imprensa paulista parece se alinhar com esse segundo grupo. Pretendem falar de política e dos acontecimentos fingindo que a desigualdade de gênero não existe. Pior ainda, reproduzindo-a.

 

A direção da TV Cultura, uma rede pública de televisão, decidiu me deixar de fora da sua série de entrevistas no programa Roda Viva com os pré-candidatos ao governo de SP, mesmo sendo a única mulher pré-candidata. O mesmo Roda Viva que protagonizou o deplorável espetáculo de machismo e preconceito contra a pré-candidata à presidência da República, Manuela D’Ávila.

 

Recentemente, essa política de exclusão já tinha sido feita pelo SBT, Folha de S. Paulo e UOL que não me convidaram para sua série de sabatinas, realizadas durante o mês de maio. Além de única mulher, sou pré-candidata pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), um partido que tem feito um destacado, corajoso e importante enfrentamento à velha política, à reprodução das desigualdades e à retirada de direitos por meio de seus representantes nas casas legislativas. Penso ser importante, contudo, apontar alguns aspectos que legitimam a minha presença na cobertura do processo eleitoral do estado de São Paulo.

 

Vale lembrar que no campo jurídico, mais especificamente no campo da justiça  eleitoral, está previsto que todos os partidos deverão ter, no mínimo, 30% de candidatas mulheres. Além disso, os recursos financeiros e o tempo de TV destinado às mulheres também deve respeitar, no mínimo, essa proporção. O que fundamenta essas determinações legais é a constatação da sub-representação das mulheres nos espaços de poder e a pressão das mulheres por ações afirmativas que busquem enfrentar o machismo. Em uma democracia se faz imperativo a presença e representação das mulheres.

 

Uma retrospectiva rápida nos mostra que no Brasil e no mundo as mulheres tem protagonizado lutas e resistência, provocando mudanças e reflexão sobre as estruturas machistas que nos permeiam nos espaços privados e nos espaços públicos. Tratam-se de lutas que interferem decisivamente na história de seus países, como podemos lembrar da importância das mulheres na derrubada do deputado Eduardo Cunha ou da presença das mulheres nas categorias que resistiram à Reforma da Previdência, assim como a gigantesca mobilização das mulheres argentinas em defesa da legalização do aborto e a Marcha das Mulheres contra Trump nos EUA e em outros países.

 

O assassinato brutal da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro mostrou de forma trágica que o racismo, o machismo e a lesbofobia seguem fortes e presentes no Brasil. Uma mulher negra, vinda da favela da Maré, lésbica e de esquerda não foi tolerada no espaço de poder dos homens brancos e poderosos. Não foi tolerada no meio interno da política por defender os direitos humanos, por defender vidas negras, vidas pobres, vidas LGBTs e enfrentar a violência sistêmica carioca. Talvez pelo mesmo motivo, vale destacar que Marielle não foi amplamente conhecida do grande público enquanto viva por essa atuação. Quantos jornais, quantas emissoras, quantos sites destacaram sua eleição, sua atuação na Câmara do Rio, seus enfrentamentos e sua coragem neste ambiente hostil às mulheres que é a política? Que efeito importante tem a repercussão da atuação de vereadoras como Marielle para a formação política de nossas mulheres, nossa juventude?

 

Marielle ficou nacionalmente conhecida por sua trágica morte. Mas Marielle segue  presente em cada uma de nós. E segue espantoso que passados mais de 100 dias de sua execução sem nenhuma resposta, parte da imprensa segue ignorando os mecanismos de exclusão das mulheres – sobretudo as negras – dos espaços públicos.

 

Por fim, o suposto critério adotado pelos veículos de comunicação citados – de convidar apenas os quatro melhores posicionados nas pesquisas para as entrevistas escanteia justamente os candidatos com propostas alternativas, fora do rol tradicional da política e dos discursos e práticas tão conhecidas – e recorrentemente desaprovadas – de nossa população. No caso em especial da TV Cultura, nem mesmo esse argumento se sustenta, uma vez que segundo a última pesquisa Ibope estou empatada tecnicamente em terceiro lugar.

 

Pode-se afirmar que há um desejo de ver a política de forma diferente, de ver novas representantes, de renovação de práticas onde “não seja tudo igual”. Porém, com medidas como estas a mídia justamente mantém o espaço já conquistado de figuras com grande exposição por eleições anteriores, cargos no governo etc. A imprensa neste sentido age na contramão de um direito humano, que é o direito ao acesso à informação. É o machismo aliado ao esforço de inviabilizar partidos pequenos e aguerridos  que travam batalhas importantes contra os grandes partidos da ordem.

 

É urgente a discussão sobre a promíscua relação  das empresas de comunicação com políticos e partidos da ordem, mais grave ainda, em se tratando de empresas públicas.  É urgente a discussão da perpetuação das desigualdades de gênero na grande imprensa. O Brasil está na lanterna (161ª posição) de um ranking de 186 países sobre a representatividade feminina no poder executivo, atrás de todos os outros países do continente americano. É preciso assegurar uma maior participação das mulheres na política e os meios de comunicação podem e devem também contribuir para isso. Estamos atentas e vamos ocupar todos os espaços da política, enfrentando o machismo estrutural e violento que atua em nossa sociedade.

 

*Lisete Arelaro é professora titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, instituição que dirigiu, eleita por voto direto de 2010 a 2014. Fez parte da equipe de Paulo Freire na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo,  na gestão Luiza Erundina. Foi por duas vezes Secretária Municipal de Educação, Cultura Esporte e Lazer de Diadema. É Pré-Candidata pelo PSOL ao governo do Estado de São Paulo

 

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2018: O ano da participação política feminina https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/05/15/2018-ano-da-politica-feminina/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/05/15/2018-ano-da-politica-feminina/#respond Tue, 15 May 2018 14:55:40 +0000 https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/womenwecan-1-320x213.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1415 Por Ivy Farias

A Primavera das Mulheres traz com que outras flores desabrochem e, em 2018, a participação política feminina é uma das belas a florirem. Em todo o mundo, a questão da mulher ter não apenas seu lugar de fala como ocupar os espaços de poder e decisão tem se tornado decisivas em democracias consolidadas pelo mundo.

Os Estados Unidos observam os efeitos Hillary Clinton: desde as eleições presidenciais, há um interesse midiático pelo tema no país em que apenas 20% das representantes na Câmara e Senado são mulheres. Em abril deste ano, por exemplo, o jornal The New York Times fez três matérias sobre mulheres e política. No dia 4, o foco são jovens responsáveis por coordenar campanhas políticas. Já no dia 10, dois assuntos dominaram a pauta: Tammy Duckworth se tornou a primeira senadora a dar a luz enquanto está no cargo, trazendo o debate sobre a política e a maternidade. A outra matéria é sobre como a participação política feminina no Arizona está se ampliando nos partidos republicano e democrata. E, ainda este mês, o jornal organiza um encontro em Nova York com quatro senadoras dos dois partidos que nunca foram vistas juntas fora de Washington D.C.

O que não faltam são questões sobre a representatividade da mulher na política e o que a mídia americana tem tentado responder, enquanto a brasileira parece simplesmente ignorar. O extermínio bárbaro da vereadora Marielle Franco há dois meses acendeu o interesse da imprensa tupiniquim sobre os muitos aspectos da participação política feminina que a carioca representava tão bem.

Marielle deveria ser o que chamamos em jornalismo de gancho, o motivo que faz com que determinada pauta se justifique temporalmente. A sua vereança era capaz de render várias matérias como financiamento de campanhas políticas para mulheres, a agenda de uma mulher feminista na Câmara dos Vereadores, destacando seus projetos sobre o aborto e o assédio em transporte público no Rio de Janeiro. Sua vida é razão suficiente para mobilizar repórteres da editoria de política, como a subrepresentação das mulheres negras e as legendas que realmente abrem as portas para mulheres periféricas.

Sua morte continua sendo fonte de várias pautas. Um exemplo? O Brasil é um país seguro para exercer a atividade política? Quantos agentes políticos são assassinados no Brasil? Como a justiça brasileira trata estes delitos? Como violência ou como crimes políticos? Há impunidade para os autores?

Comparando-se com a cobertura americana, a mídia brasileira está muito aquém do que se espera em um mundo em que o feminismo está de fato na agenda da sociedade. Aonde estão as matérias sobre filiações partidárias, sobre articulações de campanha? Cadê as entrevistas com as mulheres dispostas a entrar para política mesmo em um quadro tão estarrecedor?

As redações brasileiras têm sim profissionais capazes de realizar coberturas como estas propostas, especialmente em ano eleitoral que existe o gancho. Há, inclusive, um programa oficial do Tribunal Superior Eleitoral que veicula campanhas publicitárias incentivando a participação política feminina. A cota para participação política de 30% para cada gênero existe por lei. Dados e fontes existem em todos os partidos. Por que, então, este tratamento desigual da mídia?

É inadmissível negar que há falta de interesse do público que consome notícias – o caso Marielle prova que a sociedade está genuinamente interessada em saber mais sobre o assunto. O que é passível de aceitação é a completa ausência de sensibilidade que o tema encontra nas redações.

A participação política das mulheres é pauta em 2018 mas o Brasil parece ignorar a questão. Importante ressaltar que os mitos de que mulher não vota em mulher são alimentados pela falta de espaço que as políticas têm na mídia. Neste ano, os desafios da participação política feminina não são apenas as candidaturas laranjas, a falta de financiamento das campanhas e destinação do fundo partidário, o machismo das legendas: é também o ano em que a mídia precisa urgentemente fazer seu mea culpa e passar a dar o espaço que também são delas.

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*Ivy Farias é jornalista e estudante de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Faz parte do Movimento Mais Mulheres no Direito.

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Um mês sem Marielle: democracia, legado e a violência contra as mulheres na política | #AgoraÉQueSãoElas https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/04/14/um-mes-sem-marielle/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/04/14/um-mes-sem-marielle/#respond Sat, 14 Apr 2018 14:28:27 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1395 por Nadine Grassman e Flávia Biroli*

O assassinato da vereadora Marielle Franco nos coloca diante de um limiar. Décadas de construção democrática e de reconhecimento da violência de gênero, em leis e políticas públicas, foram insuficientes para poupar sua vida e a de outras mulheres.

Quando uma mulher negra, que moveu estruturas da periferia para o espaço da política, é morta, estremece o que foi construído para que a democracia seja um regime político e social. Nele, as mulheres devem ter assegurada sua atuação e integridade.

A violência contra as mulheres na política previne a participação e pune as que participam. Distorce representação e restringe o acesso à política de um grupo majoritário – as brasileiras são maioria da população e do eleitorado. Há, assim, impedimentos para que problemas como o da violência de gênero adentrem o debate político.

Na literatura internacional, a violência política contra as mulheres é tipificada como violência física, sexual, psicológica, simbólica e econômica. Corresponde a agressões, ameaças, assédios, estigmatização, exposição da vida sexual e afetiva, restrições à atuação e à voz das mulheres, tratamento desigual pelos partidos e outros agentes, incidindo sobre recursos econômicos e tempo de mídia para campanha política.

Marielle, mulher negra lésbica com origem na favela, era voz de quem não é ouvida nos espaços de poder. Como mulher negra e feminista, era um corpo incômodo, que expunha o caráter sexista, racista e lesbofóbico de práticas e instituições. Denunciando os assassinatos de jovens da periferia, ela reforçava no debate público as vozes de suas mães, de suas irmãs, fundadas na dor da perda, para driblar a desumanização. Denunciava que o Estado de Direito se assenta sobre “vidas matáveis” e práticas de extermínio.

O fato de que as vidas das mulheres continuem a ser ceifadas e que os corpos que caem sejam sobretudo corpos negros revela a insuficiência das garantias existentes e, de modo mais amplo, do Estado Democrático de Direito. O mesmo pode ser pensado sobre a participação política e os limites da democracia. O Brasil é 153º lugar no ranking da Inter-Parliamentary Union sobre mulheres nos parlamentos de 193 países. Na América Latina, o Brasil está à frente apenas de Belize e Haiti.

Sem confrontar a violência contra as mulheres na política, estaremos distantes não apenas da paridade, mas também da democracia. O comitê de monitoramento da Convenção de Belém do Pará no âmbito da Organização dos Estados Americanos (MESECVI) recomenda a adaptação dos instrumentos legais nacionais. Bolívia, México e Peru têm legislação específica, algo que nos parece necessário para o Brasil.

No caso brasileiro, essa violência também se expressa pela ofensiva contra a agenda da igualdade de gênero, com o objetivo de desqualificar a violência sexista e reduzir a participação política das mulheres. Fragiliza, ainda, as já insuficientes garantias para o respeito das pertenças de gênero, raça e identidade sexual.

O assassinato de Marielle Franco é paradigmático porque atinge a democracia como espaço de construção de alternativas. Parece-nos necessário partir do óbvio. A existência da democracia depende de que a participação política das mulheres seja assegurada e que a violência contra as que driblam barreiras e se fazem ouvir seja contida.

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* Nadine Gasman é representante da ONU Mulheres Brasil. Flávia Biroli é professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília.

 

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Movimento Black Lives Matter homenageia a vida de Marielle Franco | #AgoraÉQueSãoElas https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/03/25/black-lives-matter-homenageia-a-vida-de-marielle/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/03/25/black-lives-matter-homenageia-a-vida-de-marielle/#respond Sun, 25 Mar 2018 11:18:47 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1360

Black Lives Matter*

Em 14 de março de 2017, Marielle Franco, vereadora Afro-Brasileira, foi brutalmente assassinada no Rio de Janeiro, Brasil. Ela era uma defensora dos direitos humanos criada na favela e milhares de pessoas tem se reunido para lamentar sua perda. Os organizadores negros e negras no Brasil contactaram a Rede Global da Black Lives Matter, que juntamente com o resto do Movimento pela Vidas Negras, emitiram a seguinte declaração em apoio à nossa família no Brasil, e todos aqueles que defendem a libertação de todos os negros e negras pessoas em todos os lugares.

Ficamos indignados e arrasados ​​com o assassinato político de Marielle Franco, uma poderosa defensora da liberdade e defensora dos direitos dos negros e negras, moradores de favelas e outros alvos de violência policial no Brasil. Marielle era lésbica, vereadora Afro-brasileira do Rio de Janeiro que foi assassinada na quarta-feira, 14 de março em seu carro por lutar corajosamente contra a violência policial e a corrupção. Apenas duas semanas atrás, no domingo, 11 de Março, Marielle denunciou ações recentes de policiais militares que aterrorizavam moradores da favela de Acari; muitos acreditam que este foi a razão final de seu assassinato.

Em Abril e Novembro do ano passado, organizadores negros e negras de todos os EUA se encontraram e falaram diretamente com Marielle sobre nossa necessidade coletiva de construir o poder negro e negras e a solidariedade além das fronteiras. Estamos claros que, em todo o mundo, os negros e negras enfrentam padrões semelhantes de violência, por isso essa injustiça é pessoal. Nós lamentamos sua morte porque ela é uma das nossas, lutando pela libertação de todos os negros e negras, mesmo quando separados por fronteiras superficiais.

Este não é um momento para ficar calado ou com medo. A morte de Marielle e aqueles que perdemos na luta antes dela é um apelo por mais ação. Negros e negras do Brasil, nosso vínculo é profundo e ancestral. Quando vocês nos chamarem, estaremos prontos. Honraremos a sua liderança nos dias, meses e anos que se seguem até que tenhamos construído um movimento para todos os negros e negras alcançarem comunidades autodeterminadas e seguras em todo o mundo.

Por favor, visite para mais informações: mariellefranco.com.br/averdade


*Black Lives Matter é um movimento global de matriz Norte-Americana contra o genocídio negro e a marginalização das comunidades afro-americanas. Desde seu nascimento, tomou proporções globais, lutando por liberdade e igualdade em todo o mundo e reciclando o velho mantra “todas as vidas importam” para o aqui e o agora.

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#MariellePresente hoje e sempre! | #AgoraÉQueSãoElas https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/03/20/mariellepresente-hoje-e-sempre/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/03/20/mariellepresente-hoje-e-sempre/#respond Tue, 20 Mar 2018 18:17:36 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1348

por Muitas

O #AgoraÉQueSãoElas faz uma homenagem, no sétimo dia de morte, à memória da nossa amiga e colaboradora, Marielle Franco, mulher, negra, favelada, de axé, lésbica, jovem e defensora dos direitos humanos. Que o seu sorriso siga iluminando nossos caminhos.

 

Quando a mulher negra se movimenta, balança todas as estruturas. Marielle é vento forte! Seguiremos aqui, movendo e ventando juntas, com os ventos Oyá!

Jessica Ellen

 

“Marielle era a esperança personificada. Fazia com que a gente acreditasse que o mundo tinha jeito. Era a tranquilidade de que os nossos ideais seriam defendidos.”

Nathália Dill

 

“Abateram uma mulher! Mas sua morte acordou um país e o mundo se importou. Está viva Marielle:a mulher-tribo.”

Elisa Lucinda

 

“Quiseram calar uma voz de luta, mas nós em luto vamos amplificar mais e mais essa voz. Como velas nos acendemos umas nas outras e essa é a força luz de Marielle.”

Georgiana Goes

 

“Marielle solar. Mesmo nos piores momentos o sorriso imenso, contagiante, provocante, irreverente, penetrante, entrava por dentro da gente e a gente também sorria. Sorria porque acreditava nela, queria caminhar com ela. Queria sonhar com ela. Queria pensar num outro mundo que a gente de alguma forma acreditava estar criando junto. Em sua homenagem, minha querida, quero me permitir continuar a sonhar.”

Julita Lemgruber

 

“Marielle deixa não só sua filha, mas muitas meninas órfãs . O que me enche de esperança é ver que sua luta e força fortalece nossa capacidade de abraçar estas meninas e seguir com elas.”

Adriana Esteves

 

“Nina Simone disse que liberdade é não ter medo. Pois Marielle era livre e morreu assim. Essa qualidade dela que fascina o mundo, é também o terror daqueles que querem manter as coisas como são. Mas ela segue aqui, nossa heroína, debaixo de uma capa invisível. Nada mais terrível pra eles.”

Maeve Jikings

 

“Ninguém pode parar ou estancar o seu fluir. Cidadãos de bem, mulheres e mulheres negras juntas seguiremos. A luta não para!”

Cris Vianna

 

“Marielle é Dandara de nossos tempos. Incansável na luta contra a violência e pela garantia de direitos iguais a negros pobres mulheres e da população LGBT. Sua força guerreira é chama forte e viva em nós.”

Camila Pitanga

 

“Marielle é uma semente potente que espraia raios humanistas de diversas correntes! Mulher, mãe, livre, nascida e atuante nas favelas, negra,  ética, compassiva, combativa. O que sua voz continua a ecoar é sede, mais viva do que nunca, de justiça e de igualdade social! O Brasil está mais Presente com Marielle Presente. Viva pra Sempre.”

Letícia Sabatella

 

“A força da Marielle vai permanecer dentro de cada uma de nós.”

Claudia Abreu

 

“Tombaram uma de nós, uma de nossas lideranças, mas como resposta, se levantaram milhares de Marielles. A patir disso, nós mulheres negras não vamos permitir que essa dor se perpetue, vamos cada vez mais ocupar, resistir e além de tudo – ser felizes.”

Dríade Aguiar

 

“Marielle franca e legítima. Voz destemida que vinha unindo pontas e representando a nós todas. Marielle agora é estrela brilhante e poderosa que vai mudar a história de uma geração.”

Olivia Byigton

 

“Mari, a maior de todas nós. A favela, as mulheres, a juventude lá. Uma sobe e puxa a outra e Marielle puxou milhares.”

Dani Orofino

 

“Marielle agora é a estrela guia no deserto político que devemos superar. Ela nos ensinou que devemos ser fortes, que é preciso andar de cabeça erguida e peito aberto para transformar a sociedade em que vivemos.  Que o medo não pode ser maior que a luta antirracista e anticapitalista, que a luta antipatriarcal e antifascista. Que a luta do feminismo negro que ela encarnava em nome de tantas pessoas. A miséria material e espiritual que destruiu o seu corpo e a sua vida, não tem força para destruir a riqueza de seu legado político. Um dia seremos todas mulheres negras na política, o mundo será feminista e seus assassinos não serão lembrados nem como covardes. Marielle vive em cada uma de nós.”

Marcia Tiburi

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Sem o Ativismo Feminista jamais conquistaremos uma sociedade justa e igualitária | #AgoraÉQueSãoElas https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/03/07/ativismo-feminista-sociedade-justa/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/03/07/ativismo-feminista-sociedade-justa/#respond Thu, 08 Mar 2018 00:44:01 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1321 O tempo é agora: ativistas rurais e urbanas transformam a vida das mulheres

Por Phumzile Mlambo-Ngcuka*

O tema global da ONU Mulheres deste ano para o Dia Internacional das Mulheres está centrado na vida intensa das mulheres ativistas, cuja paixão e compromisso permitiram tornar realidade os direitos das mulheres, geração após geração, e a elas devemos as mudanças alcançadas. Celebramos um movimento internacional sem precedentes em favor dos direitos das mulheres, da igualdade, da segurança e da justiça, reconhecendo o trabalho incansável das ativistas que contribuíram para o avanço global da igualdade de gênero.

Hoje, vemos uma importante união de forças entre as mulheres em todo o mundo, o que demonstra o poder de falar com uma só voz no momento em que exigem oportunidades e prestação de contas, aproveitando o impulso de redes e coalizões de base que se estendem para incidir nos governos. Esses movimentos têm suas raízes no trabalho de ativistas de várias gerações – da finada líder feminista de direitos humanos Asma Jahangir, do Paquistão, à nova geração que emerge com força, representada por mulheres jovens como Jaha Dukureh na Gâmbia, a embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres na África sobre a erradicação da mutilação genital feminina e do casamento infantil.

As sociedades saudáveis contam com ampla gama de vozes e influências que fornecem contrapoderes, experiências e perspectivas diferentes e o debate que garanta a tomada de decisão adequada. Sempre que certas vozes não forem ouvidas, isso significará que falta uma parte importante da sociedade. Quando essas vozes silenciadas somam milhões de pessoas, sabemos que algo não está funcionando bem neste mundo. Do mesmo modo, quando observamos e ouvimos que essas vozes se levantem com a decisão e a solidariedade, sentimos que é o que é certo.

Nós aplaudimos as mulheres que exigiram com valentia o acesso à justiça, como, por exemplo, o movimento #MeToo ou #EuTambém, que nos últimos meses utilizaram as mídias sociais para se expressar em mais de 85 países e expor aqueles que se aproveitaram daquelas que têm menos poder. Isso mostrou que, quando as mulheres se apoiam entre si, elas contribuem para superar o estigma e o que as pessoas acham que elas têm de explicar.

Saudamos as mulheres que se pronunciaram no Tribunal Penal Internacional, porque os seus depoimentos fizeram responsáveis aqueles que utilizaram a violação como uma arma de guerra. Parabenizamos o trabalho de ativistas que lutaram pela igualdade de direitos das lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais e aquelas que pressionaram por reformas legais em países como a Tunísia, para encerrar uma lei que permitia que os estupradores escapassem da pena se se casassem com suas vítimas. Prestamos reconhecimento às pessoas que foram às ruas da Índia para denunciar o assassinato e estupro de meninas e meninos, transformando os protestos em movimentos de base mais ampla dos quais participaram comunidades inteiras. Honramos as líderes indígenas que levantaram a voz pelo direito de posse de terras e para as pessoas que perderam suas vidas defendendo os direitos humanos.

O movimento feminista deve continuar a aumentar a diversidade e o número de pessoas que trabalham pela igualdade de gênero, incorporando pessoas e grupos – como, por exemplo, homens e meninos, jovens e organizações religiosas –,  para apoiar e definir a agenda, para que jovens e meninos aprendem a valorizar e respeitar as mulheres e as meninas e para que os homens possam mudar seu comportamento. O ativismo de hoje tem que mudar a forma como escutamos as mulheres e a forma como as percebemos, reconhecendo o poder dos estereótipos para influenciar a forma como valorizamos as pessoas. É imperativo que haja um movimento de mulheres que aborde essas questões, mas também precisamos de um movimento de homens feministas.

Este deve ser um ponto crucial: pôr fim à impunidade e ao sofrimento silencioso das mulheres nas áreas rurais e urbanas, incluindo as trabalhadoras domésticas. Como revela nosso último relatório Transformar promessas em ação, as ativistas de hoje devem capacitar as pessoas que são mais suscetíveis de ficar para trás, a maioria delas são mulheres. Em todas as regiões, as mulheres são mais propensas a viver em extrema pobreza do que os homens. Esta diferença de gênero atinge até 22% no grupo entre as idades de 25 e 34 anos, os principais anos reprodutivos das mulheres, e destaca o dilema que muitas mulheres enfrentam: conciliação entre renda e cuidado. Nesta área, as medidas e as mudanças políticas são urgentemente necessárias.

A ONU Mulheres tem uma relação especial com o movimento de mulheres. Na verdade, nossa organização surgiu desse ativismo. A sociedade civil sempre desempenhou um papel essencial na liderança de ações globais em matéria de igualdade de gênero, defendendo reformas, enfatizando a complexidade dos desafios enfrentados pelas mulheres, influenciando as políticas, participando da supervisão e promovendo responsabilidade. Devemos deliberadamente criar um apoio mais forte para o ativismo político das mulheres e um espaço mais amplo para as vozes da sociedade civil das mulheres, a fim de unir nossos esforços em favor das pessoas que realmente precisam das mudanças. Precisamos de uma nova geração de igualdade duradoura que ponha fim à cultura da pobreza, do abuso e da exploração com base em gênero.


*Phumzile Mlambo-Ngcuka é diretora executiva da ONU Mulheres e Secretária-adjunta das Nações Unidas

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“As violências em que pensei ao decidir ser pré-candidata” por Manuela D’Ávila | Especial Violência contra Mulheres na Política https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2017/12/14/as-violencias-da-pre-candidatura-manu-davila/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2017/12/14/as-violencias-da-pre-candidatura-manu-davila/#respond Thu, 14 Dec 2017 06:52:38 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1232

por Manuela D’Ávila*

Ao ler o apanhado legal e histórico sobre violência política de gênero, escrito por minha amiga Senadora Vanessa Grazziotin, para o especial sobre violência contra a mulher na política, publicado neste mesmo blog, me pus a refletir sobre a provocação que as gurias do #AgoraÉQueSãoElas me fizeram: o que eu, apenas eu, enquanto mulher, havia pensado ao aceitar o desafio de ser pré-candidata à presidência da República. E percebi que tudo o que eu havia ponderado estava relacionado com o fato de eu ser mulher. Sim, pensei muito nisso. Pensei em todas as formas de violência política de gênero que já sofri, nos últimos 19 anos, e se estava disposta a encarar tudo isso numa potência muito mais elevada.

Claro que uma militante como eu, que desde os 17 anos está organizada num partido, se sente desafiada e honrada de, aos 36 anos, representar nossos sonhos num processo eleitoral emblemático como o que viveremos em 2018. Mas esse pensamento ficou embaçado, nos primeiros dias, pela lembrança, também por vezes amarga, de minhas seis disputas eleitorais.

Todo o tempo pensei em minha filha Laura, que ainda é amamentada.  Nós somos muito parceiras uma da outra, consegui incorporá-la na rotina de deputada estadual completamente. Mas quais serão as condições adversas para levá-la comigo aos longínquos roteiros?

Pensei na violência física que ambas já sofremos pelo simples fato de eu ter opiniões. Não ignoro que 2018 será uma disputa daqueles que organizam o ódio e o medo contra nós que queremos encontrar saídas para  a crise brasileira.

Pensei nas montagens virtuais asquerosas que já fizeram e farão com meu marido e enteado. Pensei em quão doído é, para nós mulheres, esse envolvimento que os adversários fazem de nossas famílias nas disputas eleitorais. Acaso alguém já viu esse tipo de trucagem com as esposas e filhos dos homens que concorrem?

Pensei também naquela postura de permanente subestimação de minha capacidade política e intelectual, oposta à bajulação que vivem os homens.

Imaginem como a sociedade e a imprensa tratariam a um homem que, aos 36, sem “parentes importantes e vindo interior” , já estivesse em seu quarto mandato parlamentar e tivesse sido em todas as eleições o mais votado? Imaginem se esse homem estive terminando o mestrado em políticas públicas, mesmo cuidando de um bebê de dois anos?

Imaginaram? Agora imaginem que essa é a minha história, mas que a minha valoração sempre foi a partir da aparência. Pensei se estava disposta novamente a ver fóruns e mais fóruns de discussão sobre meu peso. Logo eu, que tenho transtorno de imagem, como milhares de mulheres no mundo.

Uma das primeiras matérias comprovou que eu estava certa. O tom de meu cabelo estava em debate. Por que eu estava pintando de castanho? Por que não mais loiro? Estratégia política, disseram. Pra que abordarem meu discurso sobre indústria 4.0 e a necessidade do Estado para as mulheres? Respondi irônica: ficar loira cansa. Estou naturalmente morena grisalha. Aguardo matérias sobre cabelos de Doria, Alckmin e Ciro.

Mas existem duas questões que tornam toda a violência política de gênero que sofrerei pequena.

A primeira é a tarefa que eu mesma me dei de debater as saídas para crise brasileira também sob a perspectiva de gênero. Falar para as mulheres brasileiras que atentem, pois a diminuição do Estado numa sociedade machista é uma punição a mais pra nós, mulheres. Falar em todos os espaços que reforma trabalhista é ainda mais cruel com as mulheres trabalhadoras. Nós somos parte essencial da construção de um Brasil diferente!

A segunda é a existência de um movimento feminista revigorado e que não cala. Uma roda de sororidade, de empatia. Um grau de relacionamento muito mais solidário entre a maior parte das mulheres que fazem política. Uma identidade mais nítida do que nos une. Sei que conto com milhares de mulheres que, mesmo não concordando com minhas ideias, são minhas parceiras na luta contra a violência política de gênero. “Tamo” juntas!

* Manuela D’Ávila é deputada estadual pelo PCdoB e pré-candidata à presidência da república.

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“Não aceitaremos!” por Maria do Rosário | Especial Violência contra Mulheres na Política https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2017/12/11/nao-aceitaremos-por-maria-do-rosario/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2017/12/11/nao-aceitaremos-por-maria-do-rosario/#respond Mon, 11 Dec 2017 05:25:00 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1226

por Maria do Rosário*

A violência política de gênero existe, atinge mulheres em distintos espaços e se expressa de diversas maneiras. Está presente no exercício de mandatos no Executivo, no Legislativo, no interior dos partidos ou nos movimentos sociais. Não se limita aos costumeiros ataques frontais aos nossos direitos. Essa violência se expressa quando o que dizemos é desconsiderado ou diminuído, e em uma série de atos cotidianos que impõem barreiras à nossa atuação política. Fiquemos aqui com alguns exemplos emblemáticos que podem contribuir para darmos a dimensão deste problema.

Ao longo de seu mandato à frente da presidência da Argentina, Cristina Kirchner foi continuamente descrita pela mídia brasileira como desequilibrada, chegando a receber a alcunha de Cristina, a Louca, da revista “Veja”, tratamento jamais destinado a qualquer presidente, mesmo os mais criticados pelo semanário. E não foi só. Em 2008 o jornal “Estadão” realizou uma estapafúrdia análise sobre o peso da presidenta chilena Michelle Bachelet, quando esta, em uma de suas visitas ao Brasil, deu um mergulho no mar fora de seu expediente de trabalho.

Situações absurdas, superada apenas pelo nível de infâmia da revista “IstoÉ”, que chamou a presidenta Dilma Rousseff de “histérica”, e à época afirmou que esta deveria deixar o cargo ao qual foi conduzida por meio do voto popular por ter perdido “as condições emocionais para conduzir o Brasil”. Aliás, o caso de Dilma é notório no que tange ao pré-julgamento em função de sua condição feminina. Esta por vezes era caracterizada como estressada, e em outras como subserviente e teleguiada, marionete de Lula. Dois estereótipos que podem parecer opostos, mas que eram continuamente mobilizados como forma de diminuí-la.

Na Câmara dos Deputados as parlamentares atuam em um ambiente hostil, em que o desrespeito é comum e a impunidade constante. O Conselho de Ética fecha os olhos às agressões que sofremos e dessa maneira contribuem com a perpetuação de uma cultura sexista. É inaceitável, mas a verdade é que somos submetidas à humilhação pública somente por defendermos nossas ideias em mandatos que têm iguais prerrogativas constitucionais, mas que são continuamente desrespeitados.

Cito esses três casos em relação a mulheres que ocuparam os mais altos cargos eletivos de seus países, bem como aponto a condição das deputadas no exercício de seus mandatos para chamar à reflexão. Se estas mulheres, que tem visibilidade e recursos aos quais a maioria da população não tem acesso são xingadas, analisadas em aspectos de suas vidas pessoais, tem sua palavrada caçada, imaginem como são tratadas mulheres que estão iniciando sua atuação nos mais diversos espaços? Quais são as consequências desses ataques para a construção de suas trajetórias políticas?  

Na política, seja no Parlamento ou no grêmio estudantil, na direita ou na esquerda, as mulheres são mais cobradas que os homens, e enfrentam uma série de barreiras que vão desde a dupla e tripla jornada de trabalho, da discordância da família, até a dificuldade de aceitação de suas presenças em espaços tradicionalmente masculinos. A violência simbólica sofrida ao longo da vida é aprofundada na disputa, e muitas vezes levam as mulheres a acreditarem que não possuem capacidade para assumir determinados espaços. O desincentivo à atuação política é constante, bem como o assédio moral, sexual e violências, que muitas vezes apartam as mulheres do caminho rumo ao poder, pois se em alguns casos a opção é se limitar ao trabalho de base, em outros é o afastamento por completo.

Via de regra quando a escolha para ocupar determinado espaço é entre um homem ou uma mulher, a decisão segue sendo em prol dos homens. Não por acaso nunca tivemos uma presidenta na Câmara dos Deputados ou no Senado, e, mesmo no meu partido, que anos atrás aprovou a paridade de gênero, contamos com apenas duas líderes da bancada na Câmara. E apenas hoje, 37 anos depois da fundação do PT, temos uma mulher à frente da sua presidência.   

Em toda parte as dificuldades são inúmeras. A impunidade, a invisibilidade e o fato de o machismo na política ser considerado uma questão menor impede que este seja superado. Tal passo demanda mudanças institucionais, mas não apenas. É preciso um trabalho mais profundo e constante que vise uma transformação cultural, o que só é possível por meio da superação da interdição ao debate de gênero nas escolas, da democratização das comunicações, do incentivo a produções culturais emancipadoras e, claro, do forte enfrentamento à impunidade.

A vida das mulheres não está em nossas mãos, somos mais da metade da população, mas as leis que regem o que fazemos com nossos corpos, que regulamentam nosso lugar no mundo são escritas quase que exclusivamente por homens. Enfrentar a violência política de gênero é buscar superar esta realidade, é construir uma democracia real, na qual todas estejamos representadas. O que esse tipo de violência busca é mais uma vez calar nossas vozes, cabe a nós, portanto gritarmos ainda mais alto que não aceitaremos.

*Maria do Rosário, deputada federal (PT-RS)

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“Um mandato coletivo como estratégia de resistência” por Áurea Carolina e Cida Falabella | Especial Violência contra Mulheres na Política https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2017/12/07/violencia-contra-mulheres-na-politica-aurea-e-cida/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2017/12/07/violencia-contra-mulheres-na-politica-aurea-e-cida/#respond Thu, 07 Dec 2017 19:57:34 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1215
por Áurea Carolina e Cida Falabella*

A Praça da Estação é símbolo e território de experiências político-culturais que transformaram Belo Horizonte. Foi em seu cimento e entorno que participamos da criação da Praia da Estação, uma performance-festa que reivindicava a ocupação democrática do espaço público. Foi desde a Praça da Estação que chegamos ou partimos com as marchas do Movimento Fora Lacerda, uma ampla rede de resistência contra a gestão higienista do antigo prefeito. Foi lá que iniciamos e intensificamos a caminhada lado a lado com as comunidades, o que aproximou todas nós da luta pelo direito à moradia e nos engajou na resistência das ocupações de Izidora, o maior conflito fundiário urbano da América Latina. Da Praça da Estação, BH escutou o grito profundo contra o golpe e, mais recentemente, a exigência por “Diretas Já!”.  

No dia 2 de outubro de 2016, portanto, era ali que estávamos, aguardando, em frente à sede de nosso partido, o PSOL, o resultado da primeira eleição disputada pela movimentação Muitas pela Cidade que Queremos.

As Muitas surgiram em 2014 na esteira de movimentos e lutas que convergem na busca por uma cidade mais justa –, inspirada em movimentos municipalistas, em experiências latino-americanas e, entenderíamos depois, em modos de organização de algumas comunidades tradicionais brasileiras. Com a proposta de ocupar as eleições com cidadania e ousadia, integrantes de movimentos, coletivos, partidos e ativistas independentes reuniram-se em torno de uma construção coletiva, horizontal e colaborativa, em sintonia com as lutas da cidade. As praças, os parques, os viadutos e as ocupas foram, novamente, os territórios onde compartilhamos projetos e utopias.

Aos poucos, nossos princípios foram sendo delineados: uma política de amor, feminista e antirracista, a confluência máxima entre forças do campo progressista, a diversidade, a representatividade, a transparência, a busca pelo bem comum e pela radicalização da democracia, a desconstrução de privilégios de toda ordem.

Como resultado de um ano e meio de movimentação e da aliança com o Partido Socialismo e Liberdade, via Frente de Esquerda BH Socialista (que reúne o PSOL, o PCB – Partido Comunista Brasileiro, as Brigadas Populares e o MLB – Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas), as Muitas apresentaram à cidade 12 candidatas que representavam, com seus corpos políticos, as lutas que nos atravessam. As mulheres, as pessoas negras, os povos indígenas, as pessoas LGBTIQs, a luta pelo direito à cidade, pelos animais e verdes, antiprisional e pela legalização das drogas, as juventudes e o povo da cultura encontravam-se em Áurea Carolina, Avelin Buniacá Kambiwá, Bella Gonçalves, Cida Falabella, Cristal Lopez, Dário de Moura, Dú Pente, Ed Marte, Fred Buriti, Marimar, Nana Oliveira e Polly do Amaral.

É importante marcar que a relação com o partido não foi de conveniência, como tentam apregoar para nos colocarem no indistinto balaio do antipartidarismo, mas uma aliança política coerente, estratégica, sincera, em prol da cidade e fruto de uma construção real.

Em uma eleição marcada pelo perigoso discurso de rejeição à política, fizemos com pouquíssimos recursos financeiros, muita força de trabalho voluntária e engajamento de pessoas que acreditavam na proposta , uma campanha coletiva com o lema “votou em uma, votou em todas” e reencantamos a política em BH. Às vésperas das eleições, éramos centenas de pessoas nas ruas e nas redes conquistando voto a voto e acreditando que outra política é possível, um sentimento que slogans de marketeiros políticos jamais conseguirão alcançar.

Nossa campanha coletiva conquistava as duas vagas que hoje ocupamos na Câmara Municipal e fazia a vereadora mais votada da história de Belo Horizonte [Áurea Carolina, com 17.420 votos]. Ao todo, as Muitas/PSOL conquistaram 35.615 votos, dentro dos 47.937 alcançados por toda a Frente de Esquerda BH Socialista. Enfim, éramos mesmo muitas!

Para colocar em prática essa nova forma de ocupação institucional, iniciamos um processo de planejamento do futuro mandato que envolveu a população para proposição de ideias. Ao mesmo tempo, debatíamos a composição do mandato que, desde sempre, entendemos que seria um só, compartilhado, com uma equipe comum, trabalhando em conjunto, em um espaço físico sem divisórias. Nascia, assim, a Gabinetona. Na equipe, pessoas que caminharam conosco nas lutas ao longo da vida – entre elas, sete das candidatas de nossa campanha coletiva e ativistas da Frente de Esquerda BH Socialista. Em abril, abrimos um processo de chamada pública para o preenchimento de oito vagas remanescentes, com o objetivo de democratizar o acesso à composição (ao todo, recebemos 4.113 inscrições). O mosaico de corpos e de lutas que atualmente forma a Gabinetona é construído por 41 pessoas, sendo 24 negras, 25 mulheres, uma indígena, 15 LGBTIQs e quatro moradoras de ocupações urbanas.

Outra experiência inédita no País é a covereança com Bella Gonçalves, ativista do direito à cidade e da luta pela moradia, a terceira mais votada de nossa campanha coletiva. Trata-se de um contraponto à forma hegemônica e masculina de entender a política como competição e, novamente, uma aposta na colaboração e na confluência entre as lutas. A covereança é, portanto, a junção potente de cultura e territórios, ocupação e teatro, ação direta e carnaval de rua, encontros que marcam a resistência popular em Belo Horizonte.

Nesses doze meses, aprimoramos e colocamos em prática ideias surgidas nas imersões com a cidade que visam estabelecer canais diretos de participação e acompanhamento por meio de mobilização social, educação popular, formação política e comunicação. Fizemos um Chá de Gabinetona Nova e convocamos a cidade para ocupar o plenário principal da Câmara Municipal. Realizamos as Zonas Megafônicas, debates políticos e ações culturais para megafonizar as lutas. Inventamos os LabPops, oficinas temáticas para qualificar nossa atuação parlamentar tanto na incidência sobre projetos de lei em tramitação quanto na proposição de novos projetos. Criamos os Grupos Fortalecedores, que chamamos carinhosamente de GFortes, espaços temáticos de incidência direta sobre o mandato.

Estreamos um projeto de Teatro Legislativo com AzDiferentonas!, que mobilizou as pessoas a pensarem em soluções reais para temas complexos, como as abordagens policiais violentas. Prestamos contas em praça pública durante o Balanço do Mandato e ouvimos críticas e sugestões sobre a nossa atuação. Homenageamos mais de 50 negras e negros por sua contribuição no enfrentamento ao racismo durante o Dia da Consciência Negra, em um encontro energizante na Câmara Municipal.

Agora, estamos realizando estudos jurídicos e formulando critérios para colocar em prática um sonho que começamos a construir em imersões realizadas com a cidade no ano passado: a criação de mecanismos de reconhecimento de iniciativas socioculturais em Belo Horizonte com recursos angariados com a reserva de parte de nossos salários.

No Dia da Consciência Negra apresentamos nossos três primeiros projetos de lei, construídos de forma coletiva, aberta e em diálogo com a cidade, com participação e colaboração direta de comunidades tradicionais, quilombos, terreiros e integrantes dos movimentos negros e indígenas. Não tivemos pressa em fazê-los. Defendemos que as leis não podem ser elaboradas em gabinetes fechados, virar produtos de percepções particulares e personalistas ou servir para rankings de produtividade, uma prática comum na nossa sociedade machista e que reverbera na política de forma cruel.

Temos investido também nas ações de transparência, um dos compromissos firmados em campanha. Mensalmente, publicamos em nossas redes sociais como votamos nos principais projetos debatidos em plenário, bem como as justificativas para nossas posições. Compartilhamos mensalmente também nossas circulações pelos territórios em um mapa online.

Toda a inventividade que a movimentação e a Gabinetona trazem à política de Belo Horizonte tem sido um acontecimento ético e estético, como foi nossa chegada à Câmara.

Somos estranhas nesse meio machista, racista, LGBTfóbico e excludente. Já fomos agredidas por alguns dos nossos colegas e somos frequentemente desconsideradas, porque a política tradicional não é feita para conviver com a diversidade e reluta ao ter sua hegemonia desafiada. Mas resistimos firmes.

Apesar de tudo, colaboramos diretamente para grandes vitórias, como a recriação da Secretaria Municipal de Cultura, os avanços nas negociações das ocupações de Izidora com o Executivo, a articulação para impedir o monopólio da AMBEV no carnaval de BH, a extensão do horário do metrô para testes de viabilidade e o arquivamento de projetos nocivos da gestão do ex-prefeito Marcio Lacerda (PSB).

Os desafios nesses tempos de trevas são imensos, mas estamos decididamente empenhadas em fazer um mandato aberto, coletivo e popular e, a partir dele, contribuir com o processo de enfrentamento ao golpe. Ousamos transformar o sentido da política com a experimentação de práticas a serviço das lutas por justiça e democracia. O amor vencerá!

Somos Muitas.

*Áurea Carolina e Cida Falabella são vereadoras em Belo Horizonte, eleitas pelo PSOL e o Movimento Muitas pela Cidade que Queremos.

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