#AgoraÉQueSãoElas https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br Um espaço para mulheres em movimento Wed, 15 Apr 2020 11:52:04 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Baronesa https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/06/28/baronesa/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/06/28/baronesa/#respond Thu, 28 Jun 2018 20:08:17 +0000 https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Andreia-01-320x213.jpeg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1491

Por Juliana Antunes

Belo Horizonte tem vários bairros com nome de mulher e a maioria deles nos leva para a periferia. Em 2008, quando me mudei do interior de Minas para a capital, recebi a seguinte instrução: os ônibus azuis, eu poderia pegar quase todos, mas deveria ter cuidado com os vermelhos, pois eles iam “pro outro lado da cidade”. Os anos foram se passando e o interesse de tornar a experiência dos ônibus vermelhos em filme se consolidou durante o meu trabalho de conclusão de curso (Cinema e Audiovisual – UNA).

 

Comecei a visitar os bairros procurando por mulheres que estivessem interessadas em participar de um filme usando um método de abordagem clássico: saí, junto com mais duas amigas (Marcela Santos e Giselle Ferreira) pregando cartazes nas ruas com os dizeres: procuram-se mulheres interessadas em fazer um filme. Resultado pífio, quase nenhum retorno, exceto por um cartaz colado ao lado de um salão de beleza. A partir daí, se formou um dispositivo: mulheres que trabalham e ou/frequentam salões de beleza e moram em bairros com nomes femininos. O “salão da Pâmela” se tornou o meu ponto de partida para o roteiro que se baseava no cotidiano do salão e da comunidade.

 

Em uma tarde no salão da Pâmela, Andreia (protagonista do filme) entrou, experimentou uma blusa, me fitou no espelho e saiu. Por intuição, comecei a procurar por ela – que não havia  concordado em fazer um filme a priori. E ela, depois me disse: chegou a se esconder debaixo de um carro pra não ser encontrada por mim.

 

Foi em Agosto de 2015 que houve uma virada. Estávamos filmando Pâmela, quando Andreia resolveu nos dar uma cena na qual ela fazia as unhas de uma cliente. Mostrei o material filmado para ela e afirmei: você é uma grande atriz. Andreia topou fazer o filme com a seguinte condição: a de que eu vivesse na favela, pois ela não poderia me dar todo o seu tempo e nem saber com antecedência quando poderia gravar.

 

Aluguei um barracão de 30m para morar sozinha e lá fiquei por quatro meses, com visitas semanais da equipe. A chegada à Vila Mariquinha não foi tranquila e a maioria das pessoas, sobretudo Andreia, pensavam que eu era uma agente policial infiltrada. No exato dia da minha mudança, uma guerra de gangues rivais se anunciou e mudou completamente os rumos do projeto: um filme sobre salões de beleza daria lugar à uma rotina áspera e entrincheirada. A nossa presença na favela e na casa da Andreia atraiu Negão e Leid, vizinho e cunhada, respectivamente, que entraram de uma maneira muito orgânica no projeto que foi filmado de uma maneira diferente da lógica tradicional aplicada ao mercado de cinema. Algumas cenas eram ensaiadas e gravadas várias vezes. Outras se davam pelo risco do real.

 

O fato de estarmos em uma equipe reduzida e majoritariamente feminina fez do nosso encontro um filme com mulheres na construção conjunta: na frente e atrás das câmeras – o que estabeleceu outros parâmetros de organização da equipe, de possibilidade de fazer cinema, pois não só a história se reconfigurou, mas a narrativa também acabou dando a ver essa invenção de lugar comum – que não eram nem da equipe, nem das atrizes: foi um lugar comum que inventamos e que implicou na invenção de uma relação.

 

O material bruto gerado dos meses de imersão era extenso. Foi aí que o realizador Affonso Uchoa (A vizinhança do Tigre e Arábia) se debruçou em mais 60 horas de um material irregular e complexo. Assistimos, juntos, todas as imagens a fim de encontrar um rumo para o filme, que, apesar de indicações de um roteiro prévio, não estava completamente definido. Meses de trabalho nos levaram a uma escolha de 15  horas de material bruto e indicavam caminhos de filmes possíveis. E foi neste momento que a montadora Rita Pestana entrou no projeto e somou forças ao filme que se deve muito ao trabalho de montagem.

 

E bem, sempre fica a pergunta: é documentário ou ficção? Pra mim, toda ficção tem muito de documentário e todo documentário, tem ficção. Costumo dizer que Baronesa é um filme de “não atrizes” feito por uma “não diretora” e uma “não

equipe”. Foi a primeira vez de todo mundo no cinema. Andreia e Leid são grandes atrizes, só não tiveram oportunidades na vida de se destacarem como tal, assim como a maioria mulheres da equipe não haviam tido oportunidade de trabalho no mercado de trabalho, pois estavam no começo de carreira de uma uma profissão que ainda opera em lógica ainda muito masculina.

 

Baronesa foi selecionado para mais de 50 festivais nacionais e internacionais. Premiado nos festivais de Tiradentes (Brasil), FID Marseille (França), Havana (Cuba), Mar del Plata (Argentina), Indie Lisboa (Portugal), Valdívia (Chile) e Ourense (Espanha), o filme está em cartaz pela SESSÃO VITRINE em várias salas de cinema pelo país. O maior desafio do cinema nacional é a distribuição e conseguir colocar o filme em cartaz é algo que nos deixa extremamente felizes. Para que Baronesa tenha um vida em cartaz, é preciso que as pessoas ocupem as salas e falem do filme para as amigas e amigos e postem nas redes sociais, pois um filme tão independente precisa do “boca a boca” para chegar às pessoas.


Juliana Antunes é cineasta

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“Cuspiram na minha cara dentro do estádio” – assédio e machismo no Jornalismo Esportivo | #AgoraÉQueSãoElas https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/03/28/deixaelatrabalhar/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/03/28/deixaelatrabalhar/#respond Thu, 29 Mar 2018 01:11:35 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1370 por Aline Andrade

As recentes denúncias de casos de assédio sexual, amplamente divulgados nas redes sociais, chamaram a atenção para uma cultura na qual os homens foram autorizados a hostilizar, humilhar e até mesmo estuprar mulheres com impunidade. Embora a narrativa em torno dessa cultura tenha sido ligada principalmente às indústrias de entretenimento, o recente caso da jornalista Bruna Dealtry, repórter do Esporte Interativo, deu luz à mídia esportiva, uma área que por muitas vezes fecha os olhos para a má conduta sexual.

Na última semana, Bruna publicou um desabafo no Instagram após ser assediada ao vivo, quando um torcedor lhe deu um beijo na boca sem consentimento. Visivelmente constrangida, ela continuou a transmissão. O caso dela foi só mais um dos muitos abusos que acontecem diariamente no jornalismo esportivo. Com intuito de denunciar o machismo e buscar combater o assédio, cerca de 50 jornalistas, entre produtoras, apresentadoras e repórteres de diversas emissoras e veículos, se reuniram para lançar o manifesto “Deixa Ela Trabalhar”.

 

Sempre fui uma repórter que adora uma festa de torcida. Não me importo com banho de cerveja, torcedor pulando, pisando no meu pé… sempre me deixo levar pela emoção e tento sentir o momento para fazer o meu trabalho da melhor maneira possível. Sempre me orgulhei por ter uma boa relação com todas as torcidas e por ser tratada com muito respeito!! Mas ontem, senti na pele a sensação de impotência que muitas mulheres sentem em estádios, metrôs, ou até mesmo andando pelas ruas. Um beijo na boca, sem a minha permissão, enquanto eu exercia a minha profissão, que me deixou sem saber como agir e sem entender como alguém pode se sentir no direito de agir assim. Com certeza o rapaz não sabe o quanto eu ralei para estar ali. O quanto eu estudei e me esforcei para ter o prazer de poder contar histórias incríveis e estar em frente às câmeras mostrando tudo ao vivo. Faculdade, cursos, muitos finais de semana perdidos, muitos jogos de futebol analisados, estudo tático, técnico, pesquisas etc. Mas pelo simples fato de ser uma mulher no meio de uma torcida, nada disso teve valor para ele. Se achou no direito de fazer o que fez. Hoje, me sinto ainda mais triste pelo que aconteceu comigo e pelo que acontece diariamente com muitas mulheres, mas sigo em frente como fiz ao vivo. Com a certeza que de cabeça erguida vamos conquistar o respeito que merecemos e que o cidadão que quis aparecer é quem deve se envergonhar do que fez. Sou repórter de futebol, sou mulher e mereço ser respeitada.

A post shared by Bruna Dealtry (@brunadealtry) on Mar 14, 2018 at 5:46am PDT

 

“Já recebi ameaça de estupro por mensagem, já fui xingada, ofendida. Cuspiram na minha cara dentro do estádio”

Bibiana Bolson, colunista do portal ESPNW

 

“Não quer ouvir, vem de fone para o estádio.”

Resposta de torcedor ao receber críticas da jornalista Monique Danello, do Esporte Interativo

 

Em pesquisa publicada pela ONU em 2017, praticamente uma a cada duas jornalistas já sofreu abuso sexual ou psicológico, agressões digitais e outras formas de violência por serem mulheres. Na mídia esportiva, o cenário parece ainda pior. Os ataques misóginos são normalmente de cunho sexual, direcionados a aparência, submissão e a falta de conhecimento sobre esportes. “É sempre uma luta a mais, como se a gente tivesse que provar que temos conhecimento por sermos mulheres. O conhecimento independe de gênero, depende de interesse, dedicação e ponto. Sempre é muito colocado em prova isso, temos que fazer um esforço a mais para sermos respeitadas, consideradas boas jornalistas”, destaca Ana Hissa, do SporTV.

Em uma indústria dominada por homens, os abusos e preconceitos vão muito além do mostrado pelas câmeras, vêm de todos os lados nos bastidores: nas redações, clubes e relações com profissionais do esporte. Em parte, o público apenas reage a falta de confiança que as jornalistas têm no seu próprio ambiente trabalho, sendo muitas vezes desacreditadas e estigmatizadas pelos próprios colegas de profissão. “As situações no estádio já são de conhecimento geral. Mas por mais que a gente não tenha que deixar de falar, de ser incansável nesse sentido, tem muitas situações que acontecem fora do estádio e no ambiente esportivo que a gente acaba não dando luz. E, no meu caso e de muitas, passa pelo assédio de pessoas que estão no comando de algumas redações” diz Bibiana Bolson, colunista do ESPNW. De acordo com algumas jornalistas entrevistadas, situações como a de ficar fora de uma cobertura jornalística por reagir de forma negativa a um assédio são recorrentes.

 

“Muitas coisas acontecem de forma sútil no dia a dia, tem coisas que a gente sabe que aconteceram simplesmente por ser mulher, porque as vezes há interesse nessa relação. As grandes redações têm a presença feminina, mas elas continuam sendo comandadas por homens. As grandes figuras das redações esportivas são homens. Em muitas situações, as mulheres não têm nem para onde correr dentro de uma redação”

Bibiana Bolson, ESPNW.

 

“Uma vez eu consegui uma entrevista com um grande jogador, importante, em um momento chave que ninguém esperava. Logo depois, ouvi de um colega: ‘Mas também é bonita, é mulher.’ Você tem que estar sempre provando sua capacidade para convencer as pessoas de que você está lá porque você tem potencial. Eu conheço meninas que desistiram da carreira no jornalismo esportivo porque foram assediadas por empresários, jogadores, se sentiam constrangidas e não gostavam da forma como eram tratadas na redação. Desde comentários sobre roupas à situações mais extremas”

Isabela Pagliari, do Esporte Interativo.

 

Bibiana e Isabela passaram por uma humilhação em 2016, enquanto faziam a cobertura da Eurocopa, na França. As jornalistas foram cercadas por um grupo de homens enquanto faziam uma gravação. “Mais de 20 homens vieram correndo na nossa direção, para tentar nos abraçar, tentar nos pegar. Não conseguimos terminar o trabalho, tivemos que sair correndo. Quando fomos relatar para um policial francês o que tinha acontecido, ele foi muito intolerante, nos acusou de estar mentindo” conta Bibiana.

As agressões nas redes sociais são as mais comuns e recorrentes: “Quando a gente expõe uma opinião sobre um determinado assunto, que não agrada os torcedores do time X ou Y, eles respondem “vai lavar uma louça” ou coisas até piores e mais ofensivas como “bom é quando a mulher servia só pra dar a xota pra gente”, diz Monique Danello, do canal Esporte Interativo. Para Ana Hissa, do SporTV, as ofensas são cada vez mais cruéis. Após conseguir uma importante entrevista exclusiva e ser ofendida por um internauta no twitter, ela ficou impressionada com a quantidade de curtidas que o comentário teve e com a reação dos colegas: “Depois de ver um comentário desses, muita gente vira para você e fala: relaxa isso é coisa de internet”, ou “você é zoada dentro de uma redação, dentro de um estádio. São tantas coisas que falam para gente relaxar, relevar, esquecer. Acho que esse movimento vem como um basta para isso tudo. Não é relaxa, esquece, não se importa.”.

A relação com clubes e profissionais do esporte também é complicada. A cada mensagem, uma preocupação em ser mal interpretada ou dar abertura para comentários inadequados e ao assédio. Não há muito tempo, um conhecido jogador mostrou uma foto sua nu no celular para uma jornalista.

 

“Se você sair pra jantar comigo, eu posso te dar mais detalhes sobre isso.”

Resposta de um empresário de jogadores para a jornalista Bibiana Bolson

 

“Durante a apresentação de um jogador, houve uma confusão na hora que ele subiu para o campo e um segurança do clube começou a empurrar a gente. A Cristina* estava grávida e ele estava nos empurrando para cima de uma grade. Eu reclamei falando que ela estava grávida. Ele respondeu: se ela está grávida, está fazendo o que aqui? A gente começou a discutir e ele ameaçou vir para cima de mim”

Monique Danello, do Esporte Interativo. (*nome fictício)

 

Monique Danello fala da importância do momento, “a atitude da Bruna, de compartilhar o vídeo e falar nas redes sociais foi muito importante. As vezes falta coragem, ficamos constrangidas de compartilhar vídeos como esses. São casos corriqueiros”. Bibiana completa, “muito importante mais do que mencionar casos, é esse desejo que a gente tem de refletir e não se sentir sem força, sem poder de mudança, que a gente consiga expor isso também. Nossa intenção é de fato debater outras ações, conversar com Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) para saber se algo pode ser implementado no código desportivo, de que maneira os clubes podem nos acolher, de que forma as queixas podem ser feitas. De que maneira a gente pode levar isso para frente, para que outras se sintam envolvidas e tenham vontade. Nossa intenção é converter isso em ações concretas, criar mecanismos, desenvolver o debate e também falar dessas situações de assedio que acontecem dentro da redação.

 

A hashtag #DeixaElaTrabalhar ficou entre os trending topics do Twitter e foi compartilhada por diversos clubes, organizações de torcidas e profissionais da área. A campanha trouxe luz a situação e já vem tendo resultado, ao levar a discussão – urgente e essencial – para um público mais amplo. Agora, tão importante quanto, é saber quais medidas concretas serão tomadas por todas as partes envolvidas no processo. E o recado está dado: deixa ela trabalhar. Nenhum assédio será tolerado.

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Movimento Black Lives Matter homenageia a vida de Marielle Franco | #AgoraÉQueSãoElas https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/03/25/black-lives-matter-homenageia-a-vida-de-marielle/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/03/25/black-lives-matter-homenageia-a-vida-de-marielle/#respond Sun, 25 Mar 2018 11:18:47 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1360

Black Lives Matter*

Em 14 de março de 2017, Marielle Franco, vereadora Afro-Brasileira, foi brutalmente assassinada no Rio de Janeiro, Brasil. Ela era uma defensora dos direitos humanos criada na favela e milhares de pessoas tem se reunido para lamentar sua perda. Os organizadores negros e negras no Brasil contactaram a Rede Global da Black Lives Matter, que juntamente com o resto do Movimento pela Vidas Negras, emitiram a seguinte declaração em apoio à nossa família no Brasil, e todos aqueles que defendem a libertação de todos os negros e negras pessoas em todos os lugares.

Ficamos indignados e arrasados ​​com o assassinato político de Marielle Franco, uma poderosa defensora da liberdade e defensora dos direitos dos negros e negras, moradores de favelas e outros alvos de violência policial no Brasil. Marielle era lésbica, vereadora Afro-brasileira do Rio de Janeiro que foi assassinada na quarta-feira, 14 de março em seu carro por lutar corajosamente contra a violência policial e a corrupção. Apenas duas semanas atrás, no domingo, 11 de Março, Marielle denunciou ações recentes de policiais militares que aterrorizavam moradores da favela de Acari; muitos acreditam que este foi a razão final de seu assassinato.

Em Abril e Novembro do ano passado, organizadores negros e negras de todos os EUA se encontraram e falaram diretamente com Marielle sobre nossa necessidade coletiva de construir o poder negro e negras e a solidariedade além das fronteiras. Estamos claros que, em todo o mundo, os negros e negras enfrentam padrões semelhantes de violência, por isso essa injustiça é pessoal. Nós lamentamos sua morte porque ela é uma das nossas, lutando pela libertação de todos os negros e negras, mesmo quando separados por fronteiras superficiais.

Este não é um momento para ficar calado ou com medo. A morte de Marielle e aqueles que perdemos na luta antes dela é um apelo por mais ação. Negros e negras do Brasil, nosso vínculo é profundo e ancestral. Quando vocês nos chamarem, estaremos prontos. Honraremos a sua liderança nos dias, meses e anos que se seguem até que tenhamos construído um movimento para todos os negros e negras alcançarem comunidades autodeterminadas e seguras em todo o mundo.

Por favor, visite para mais informações: mariellefranco.com.br/averdade


*Black Lives Matter é um movimento global de matriz Norte-Americana contra o genocídio negro e a marginalização das comunidades afro-americanas. Desde seu nascimento, tomou proporções globais, lutando por liberdade e igualdade em todo o mundo e reciclando o velho mantra “todas as vidas importam” para o aqui e o agora.

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Marielle Franco: fazendo diferente e fazendo diferença | #AgoraÉQueSãoElas https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2016/10/31/marielle-franco-fazendo-diferente-e-fazendo-diferenca/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2016/10/31/marielle-franco-fazendo-diferente-e-fazendo-diferenca/#respond Mon, 31 Oct 2016 10:51:18 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=541

Por Marielle Franco*

Eu não sou mulher, não sou negro e não sou favelado. É por isso que votarei em você, Marielle”. Essa foi a declaração de voto que mais me inspirou durante a campanha eleitoral para vereadora do Rio de Janeiro. Mas essa frase, ao mesmo tempo que dá credibilidade e legitimidade às nossas propostas e ao simbolismo de nossa representação política, também é desafiadora. Tanto que as pessoas teimam em perguntar: Como explicar os 46.502 votos? Ainda é “prematuro” apresentar uma avaliação que traga uma resposta “concluída”, com o mapa eleitoral cruzado com a diluição da campanha pela cidade. Mas há pistas que permite uma qualificada análise inicial.

Um dos elementos que nos ajuda a pensar é o gargalo que existe entre a política institucional e a participação das pessoas nos espaços de decisão. Sim, trata-se da tal representatividade que a conjuntura política exige. Com a campanha foi possível colocar em foco a delegação da representação, criando expectativa do exercício do mandato institucional manter a mesma proximidade que levaram aos mais de 46 mil votos.

As minhas identidades, enquanto feminista, negra e cria da favela foram ressaltadas na campanha, porque é o que me compõe enquanto sujeita política e humana. São a partir dessas vivências, por vezes subjugadas por nossa sociedade predominantemente machista, racista e desigual, que experimento a cidade em sua complexidade. E nosso programa, nossas propostas e o simbolismo ético e estético se apresentaram cerzindo debates e identificações com essas especificidades.

Trata-se de diferenças e alternativas políticas em um quadrante no qual o conservadorismo, principalmente nas Casas Legislativas, amplia-se. Lideradas por homens brancos, que, na maioria das vezes, colocam suas opções religiosas acima dos interesses públicos, as casas parlamentares, no ano de 2015, notabilizaram-se por atentados aos direitos das mulheres. No âmbito federal, o projeto de lei 5.069 de Eduardo Cunha buscou criminalizar ainda mais as mulheres que sofrerem aborto. Na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro foi criada uma CPI do Aborto que tentou fazer com que todos os hospitais que recebessem mulheres com quadro de aborto, natural ou não, notificassem à polícia. A repulsa e a onda de protestos contra a tentativas de legislar sobre o corpo das mulheres ecoaram por todo o Brasil e mexeram nessas eleições. Como contradição desse processo, um dos quadros visíveis foi a enxurrada de votos em candidatas declaradamente feministas, como Áurea Carolina, a mais votada na capital mineira com 17.420 votos e Talíria Petrone, a mais votada em Niterói, com 5.121 votos. Ambas do PSOL.

No Rio, recebemos votos do Jardim Botânico à Maré. Sim, a classe média alta votou em nossa proposta. Nossos votos não estão geolocalizados nas favelas e nos confirmaram como uma parlamentar da cidade e não de um “distrito” específico. Mas o Ubuntu regeu a nossa campanha. De qualquer forma, é possível acreditar que são pessoas que estão distantes da política institucional e nos enxergaram como uma aproximação democrática. Esse foi um desafio que nos fortaleceu no trilho junto ao Freixo, o que também foi uma das marcas de identidade das campanhas proporcionais e majoritária. Chegamos ao segundo turno e conquistamos a segunda maior bancada para a próxima legislatura na Câmara do Rio.

Os votos nas urnas expressam vitórias política, simbólica e programática.

Eu sou vereadora porque nós somos necessárias.

*Marielle Franco, Vereadora eleita com a quinta maior votação da Cidade do Rio de Janeiro. 

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