#AgoraÉQueSãoElas https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br Um espaço para mulheres em movimento Wed, 15 Apr 2020 11:52:04 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 La Manada: machismo e proteção a estupradores na Justiça espanhola https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/05/30/la-manada-machismo-na-justica-espanhola/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/05/30/la-manada-machismo-na-justica-espanhola/#respond Wed, 30 May 2018 13:59:48 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1435
Mulher protesta em frente ao Tribunal em Pamplona onde os acusados do caso “La Manada” foram julgados. Foto: VICTOR J BLANCO (©GTRESONLINE)

*Por Nataly Cabanas

O 8M espanhol de 2018 foi épico. A maior greve geral feminista da história do país colocou a Espanha na vanguarda do feminismo mundial. No mês de abril as ruas voltaram a ser ocupadas, desta vez em espírito de indignação por um caso de estupro coletivo ocorrido em 2016 na festa de San Fermín,, em Pamplona.

La Manada”, como o caso ficou conhecido, era o nome do grupo de whatsapp que mantinham os cinco jovens sevilhanos acusados, dos quais quatro possuíam histórico de abuso sexual. Na primeira noite de festa, conduziram a vítima – uma jovem madrilenha de 18 anos – ao hall de entrada de um prédio e a violentaram repetidamente sem preservativo. Ao final, para coroar, roubam-lhe o celular deixando-a incomunicável. Até a data do veredito final, a defesa protagonizou uma campanha difamadora da vítima na imprensa e nos autos. Como resposta crescia nas redes um movimento em defesa da jovem. No dia do julgamento, 26 de abril, coletivos de feministas se reuniram em frente ao Palácio da Justiça de Navarra. A acusação pedia 22 anos de prisão por agresión sexual (estupro). Porém a sentença final foi: 9 años por delito continuado de abuso sexual. No Código Penal Espanhol o abuso caracteriza-se quando o ato sexual é praticado sem consentimento, porém sem uso violência ou intimidação. Não temos delito equivalente no Código Penal Brasileiro. Segundo a advogada feminista Gabriela Biazi Justino da Silva: “A tendência é que aqui casos como esse sejam considerados estupro ou estupro de vulnerável”.

Os cinco acusados no caso “La Manada”: Antonio Manuel Guerrero (30 anos), guarda civil; Jesús Escudero (30 anos), cabeleireiro; Jose Ángel (27 anos) Prenda, sem ocupação; Ángel Boza (26 anos), estudante; Alfonso Jesús Cabezuelo (30 anos), militar. Foto: Reprodução

Contraditório em sua própria definição, o abuso sexual espanhol não vê na falta de consentimento uma violência. Assim, o que deveria ser a prova cabal da acusação acabou tornando-se o grande trunfo do acusados. Um dos estupradores gravou em seu celular o ato e, como troféu, compartilhou no grupo. As imagens revelam uma vítima em estado de choque: “só queria que tudo acabasse depressa então fechei os olhos para não ter de ver nada” – disse a vítima. Submeter-se para sobreviver. Cegados pela misoginia, os juízes não viram violência ou intimidação no vídeo, e assim reduziram a pena em mais da metade do tempo.

O veredito das ruas era categórico: No es abuso, es violación. No mesmo dia protestos por toda a Espanha eram convocados através das hashtags #NoesNo, #YoSiTeCreo #LaManadaSomosNosotras. Um novo 8M, mais combativo. O fracasso da Justiça ofendeu a todas as mulheres.  

O caso ganharia contornos ainda mais surrealistas com o voto de um dos juízes, que decide pela absolvição dos cinco, alegando ver no vídeo um clima de “festivo prazer. É a gota d’água para explodir a revolta. Nas ruas vê-se estampado o rosto do juiz sob a legenda “cúmplice de estupradores”. Um abaixo-assinado pede sua destituição do cargo. Nos dias que se seguem é convocado em Madrid o protesto Stop Cultura de la Violación. Das redes brota uma  hashtag, o #cuéntalo, novo diapasão de depoimentos de agressões sexuais. É o encontro do #metoo com o #meuprimeiroassédio, agressões da infância, assédios que aconteceram ontem, muito cabe no #cuéntalo. E ainda sobra espaço para florescer um novo gênero, o “se lo cuento porque Maria no lo puede”. São mulheres relembrando as histórias daquelas que já se foram, vítimas do feminicídio. Abalado pela opinião pública, o governo atual convoca um Conselho para rever a tipificação dos crimes contra a liberdade sexual no Código Penal Espanhol. O Conselho, que se pretende reformador do machismo, é composto por um total de vinte membros, dos quais todos são… homens. O movimento feminista espanhol promete que os protestos não vão parar.

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*Nataly Cabanas é jornalista brasileira e mora em Madri.

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#NãoVamosMaisTaparOsOlhos: produtoras brasileiras firmam pacto anti-assédio sexual no setor https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/04/09/nao-vamos-mais-tapar-os-olhos/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/04/09/nao-vamos-mais-tapar-os-olhos/#respond Mon, 09 Apr 2018 11:47:38 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1389

por Antonia Pellegrino*

Há um ano, a hashtag #MexeuComUmaMexeuComTodas moveu o Brasil. Quatro dias antes, este blog publicou o texto denúncia da figurinista Su Tonani: “José Mayer me assediou“. Depois de ter percorrido as instâncias institucionais da empresa onde trabalhava denunciando abusos e em busca de justiça, Tonani cansou de não ser ouvida. E decidiu falar publicamente sobre a violência que sofrera ao longo de 8 meses em seu ambiente de trabalho.

Espontaneamente, as funcionárias da mesma empresa se articularam numa gigantesca e acolhedora retaguarda, iniciando o movimento #MexeuComUmaMexeuComTodas, que inundou a rede. O resultado foram quatro milhões de menções e o marco histórico desta ser maior hashtag no combate à violência contra a mulher nas redes sociais virtuais.

A partir daí, este blog passou a receber por inbox muitas denúncias de violência, agressão, alienação parental, assédio etc, mas não as publicou por duas razões: falta de estrutura para checagem; e a missão de incidir ou pautar nos debates da sociedade (nosso DNA nunca foi ser uma plataforma de escracho). Acreditamos que o escracho público é um ato extremo e nocivo, o último recurso quando a institucionalidade é claramente ineficiente.

Até que, em dezembro de 2017, já indo dormir, recebi um telefonema de uma mulher que eu não conhecia, fazendo uma denuncia que me tirou o sono. Diferentemente de todas as mulheres que nos procuram, Silvana Moura não era a vítima. E sim a figurinista-chefe da vítima de um suposto estupro – ainda em investigação –  em um set de filmagem, pelo ator Thogun.

Conversamos pelo telefone e percebi: eu estava diante de uma mulher se responsabilizando por outra. Nada trivial no país da pichação “não fui eu”. Onde é preferível ignorar a ideia de responsabilidade coletiva, para seguir ignorando confortavelmente os passivos das nossas histórias familiares, da nossa sociedade – ao mesmo tempo que reagimos como leões acuados ante a discussão de taxação sobre herança. O Brasil é o país de baixo capital cívico, onde alta é desconfiança entre as pessoa conhecidas, desconhecidas ou da mesma equipe. E o desconhecimento da lei é proporcional ao seu descumprimento. A lei do trabalho diz que, quando um caso de violência ocorre no ambiente de trabalho, aquilo não diz respeito somente à vítima e ao agressor – é responsabilidade de todos os agentes da relação de trabalho, sobretudo dos superiores hierárquicos, os quais, à letra da Lei, quando agressores, ou seus cúmplices, são passíveis de enquadramento criminoso.

Silvana me fez um convite para mais uma quebra de silêncio e um escracho público. Mas embora o produtor americano Harvey Weinstein já tivesse caído, nós sabemos como as denúncias no Brasil acabam: com as vítimas sendo desacreditadas, humilhadas, retaliadas e perdendo seus empregos. A estrutura do machismo brasileiro é tão radical que, dificilmente conseguiríamos (conseguiremos), um efeito dominó como o que aconteceu internacionalmente.

É preciso mudar a estrutura. E qual ferramenta eu tenho? A mesma que tantas de nós:  minha palavra e minhas redes – sociais virtuais e de afetos. Gravei um vídeo tosco, postei e envie para amigas e amigos produtores, com a seguinte provocação: vamos criar um pacto de responsabilidade anti-assédio no audiovisual.

Os produtores Rodrigo Teixeira, Beto Grauss, da Pródigo Filmes, e Renata Brandão, da Conspiração, acolheram a iniciativa imediatamente. Marcamos um encontro para janeiro. E, no primeiro dia do ano, as americanas lançaram o Time’s Up. Uma semana depois, no Golden Globe, atrizes e ativistas vestiram preto e Oprah Winfrey anunciou o fim da era do assédio.

No Brasil, essa hora também chegou – pelo menos no audiovisual independente. Não é uma canetada de política pública, capaz de mudar a vida de milhões de pessoas, mas é o primeiro passo concreto para mudarmos uma cultura dentro de um setor fundamental da economia criativa. E, se conseguirmos, a um tempo, nos mover e avançar, seremos exemplo. Essa realização foi possível graças aos esforços institucionais da APRO (Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais), com apoio do advogado Caio Mariano, e a força das incríveis Renata Brandão e Marianna Souza, entre tantas e tantos.

Daqui em diante, todas as trabalhadoras e todos os trabalhadores do audiovisual independente decidimos que não vamos mais tapar os olhos. A CARTILHA-PACTO DE RESPONSABILIDADE ANTI-ASSÉDIO SEXUAL NO SETOR marca o começo de um novo tempo.

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*Antonia Pellegrino é editora deste blog, roteirista de cinema e tv, escritora e feminista.

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“Cuspiram na minha cara dentro do estádio” – assédio e machismo no Jornalismo Esportivo | #AgoraÉQueSãoElas https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/03/28/deixaelatrabalhar/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/03/28/deixaelatrabalhar/#respond Thu, 29 Mar 2018 01:11:35 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1370 por Aline Andrade

As recentes denúncias de casos de assédio sexual, amplamente divulgados nas redes sociais, chamaram a atenção para uma cultura na qual os homens foram autorizados a hostilizar, humilhar e até mesmo estuprar mulheres com impunidade. Embora a narrativa em torno dessa cultura tenha sido ligada principalmente às indústrias de entretenimento, o recente caso da jornalista Bruna Dealtry, repórter do Esporte Interativo, deu luz à mídia esportiva, uma área que por muitas vezes fecha os olhos para a má conduta sexual.

Na última semana, Bruna publicou um desabafo no Instagram após ser assediada ao vivo, quando um torcedor lhe deu um beijo na boca sem consentimento. Visivelmente constrangida, ela continuou a transmissão. O caso dela foi só mais um dos muitos abusos que acontecem diariamente no jornalismo esportivo. Com intuito de denunciar o machismo e buscar combater o assédio, cerca de 50 jornalistas, entre produtoras, apresentadoras e repórteres de diversas emissoras e veículos, se reuniram para lançar o manifesto “Deixa Ela Trabalhar”.

 

Sempre fui uma repórter que adora uma festa de torcida. Não me importo com banho de cerveja, torcedor pulando, pisando no meu pé… sempre me deixo levar pela emoção e tento sentir o momento para fazer o meu trabalho da melhor maneira possível. Sempre me orgulhei por ter uma boa relação com todas as torcidas e por ser tratada com muito respeito!! Mas ontem, senti na pele a sensação de impotência que muitas mulheres sentem em estádios, metrôs, ou até mesmo andando pelas ruas. Um beijo na boca, sem a minha permissão, enquanto eu exercia a minha profissão, que me deixou sem saber como agir e sem entender como alguém pode se sentir no direito de agir assim. Com certeza o rapaz não sabe o quanto eu ralei para estar ali. O quanto eu estudei e me esforcei para ter o prazer de poder contar histórias incríveis e estar em frente às câmeras mostrando tudo ao vivo. Faculdade, cursos, muitos finais de semana perdidos, muitos jogos de futebol analisados, estudo tático, técnico, pesquisas etc. Mas pelo simples fato de ser uma mulher no meio de uma torcida, nada disso teve valor para ele. Se achou no direito de fazer o que fez. Hoje, me sinto ainda mais triste pelo que aconteceu comigo e pelo que acontece diariamente com muitas mulheres, mas sigo em frente como fiz ao vivo. Com a certeza que de cabeça erguida vamos conquistar o respeito que merecemos e que o cidadão que quis aparecer é quem deve se envergonhar do que fez. Sou repórter de futebol, sou mulher e mereço ser respeitada.

A post shared by Bruna Dealtry (@brunadealtry) on Mar 14, 2018 at 5:46am PDT

 

“Já recebi ameaça de estupro por mensagem, já fui xingada, ofendida. Cuspiram na minha cara dentro do estádio”

Bibiana Bolson, colunista do portal ESPNW

 

“Não quer ouvir, vem de fone para o estádio.”

Resposta de torcedor ao receber críticas da jornalista Monique Danello, do Esporte Interativo

 

Em pesquisa publicada pela ONU em 2017, praticamente uma a cada duas jornalistas já sofreu abuso sexual ou psicológico, agressões digitais e outras formas de violência por serem mulheres. Na mídia esportiva, o cenário parece ainda pior. Os ataques misóginos são normalmente de cunho sexual, direcionados a aparência, submissão e a falta de conhecimento sobre esportes. “É sempre uma luta a mais, como se a gente tivesse que provar que temos conhecimento por sermos mulheres. O conhecimento independe de gênero, depende de interesse, dedicação e ponto. Sempre é muito colocado em prova isso, temos que fazer um esforço a mais para sermos respeitadas, consideradas boas jornalistas”, destaca Ana Hissa, do SporTV.

Em uma indústria dominada por homens, os abusos e preconceitos vão muito além do mostrado pelas câmeras, vêm de todos os lados nos bastidores: nas redações, clubes e relações com profissionais do esporte. Em parte, o público apenas reage a falta de confiança que as jornalistas têm no seu próprio ambiente trabalho, sendo muitas vezes desacreditadas e estigmatizadas pelos próprios colegas de profissão. “As situações no estádio já são de conhecimento geral. Mas por mais que a gente não tenha que deixar de falar, de ser incansável nesse sentido, tem muitas situações que acontecem fora do estádio e no ambiente esportivo que a gente acaba não dando luz. E, no meu caso e de muitas, passa pelo assédio de pessoas que estão no comando de algumas redações” diz Bibiana Bolson, colunista do ESPNW. De acordo com algumas jornalistas entrevistadas, situações como a de ficar fora de uma cobertura jornalística por reagir de forma negativa a um assédio são recorrentes.

 

“Muitas coisas acontecem de forma sútil no dia a dia, tem coisas que a gente sabe que aconteceram simplesmente por ser mulher, porque as vezes há interesse nessa relação. As grandes redações têm a presença feminina, mas elas continuam sendo comandadas por homens. As grandes figuras das redações esportivas são homens. Em muitas situações, as mulheres não têm nem para onde correr dentro de uma redação”

Bibiana Bolson, ESPNW.

 

“Uma vez eu consegui uma entrevista com um grande jogador, importante, em um momento chave que ninguém esperava. Logo depois, ouvi de um colega: ‘Mas também é bonita, é mulher.’ Você tem que estar sempre provando sua capacidade para convencer as pessoas de que você está lá porque você tem potencial. Eu conheço meninas que desistiram da carreira no jornalismo esportivo porque foram assediadas por empresários, jogadores, se sentiam constrangidas e não gostavam da forma como eram tratadas na redação. Desde comentários sobre roupas à situações mais extremas”

Isabela Pagliari, do Esporte Interativo.

 

Bibiana e Isabela passaram por uma humilhação em 2016, enquanto faziam a cobertura da Eurocopa, na França. As jornalistas foram cercadas por um grupo de homens enquanto faziam uma gravação. “Mais de 20 homens vieram correndo na nossa direção, para tentar nos abraçar, tentar nos pegar. Não conseguimos terminar o trabalho, tivemos que sair correndo. Quando fomos relatar para um policial francês o que tinha acontecido, ele foi muito intolerante, nos acusou de estar mentindo” conta Bibiana.

As agressões nas redes sociais são as mais comuns e recorrentes: “Quando a gente expõe uma opinião sobre um determinado assunto, que não agrada os torcedores do time X ou Y, eles respondem “vai lavar uma louça” ou coisas até piores e mais ofensivas como “bom é quando a mulher servia só pra dar a xota pra gente”, diz Monique Danello, do canal Esporte Interativo. Para Ana Hissa, do SporTV, as ofensas são cada vez mais cruéis. Após conseguir uma importante entrevista exclusiva e ser ofendida por um internauta no twitter, ela ficou impressionada com a quantidade de curtidas que o comentário teve e com a reação dos colegas: “Depois de ver um comentário desses, muita gente vira para você e fala: relaxa isso é coisa de internet”, ou “você é zoada dentro de uma redação, dentro de um estádio. São tantas coisas que falam para gente relaxar, relevar, esquecer. Acho que esse movimento vem como um basta para isso tudo. Não é relaxa, esquece, não se importa.”.

A relação com clubes e profissionais do esporte também é complicada. A cada mensagem, uma preocupação em ser mal interpretada ou dar abertura para comentários inadequados e ao assédio. Não há muito tempo, um conhecido jogador mostrou uma foto sua nu no celular para uma jornalista.

 

“Se você sair pra jantar comigo, eu posso te dar mais detalhes sobre isso.”

Resposta de um empresário de jogadores para a jornalista Bibiana Bolson

 

“Durante a apresentação de um jogador, houve uma confusão na hora que ele subiu para o campo e um segurança do clube começou a empurrar a gente. A Cristina* estava grávida e ele estava nos empurrando para cima de uma grade. Eu reclamei falando que ela estava grávida. Ele respondeu: se ela está grávida, está fazendo o que aqui? A gente começou a discutir e ele ameaçou vir para cima de mim”

Monique Danello, do Esporte Interativo. (*nome fictício)

 

Monique Danello fala da importância do momento, “a atitude da Bruna, de compartilhar o vídeo e falar nas redes sociais foi muito importante. As vezes falta coragem, ficamos constrangidas de compartilhar vídeos como esses. São casos corriqueiros”. Bibiana completa, “muito importante mais do que mencionar casos, é esse desejo que a gente tem de refletir e não se sentir sem força, sem poder de mudança, que a gente consiga expor isso também. Nossa intenção é de fato debater outras ações, conversar com Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) para saber se algo pode ser implementado no código desportivo, de que maneira os clubes podem nos acolher, de que forma as queixas podem ser feitas. De que maneira a gente pode levar isso para frente, para que outras se sintam envolvidas e tenham vontade. Nossa intenção é converter isso em ações concretas, criar mecanismos, desenvolver o debate e também falar dessas situações de assedio que acontecem dentro da redação.

 

A hashtag #DeixaElaTrabalhar ficou entre os trending topics do Twitter e foi compartilhada por diversos clubes, organizações de torcidas e profissionais da área. A campanha trouxe luz a situação e já vem tendo resultado, ao levar a discussão – urgente e essencial – para um público mais amplo. Agora, tão importante quanto, é saber quais medidas concretas serão tomadas por todas as partes envolvidas no processo. E o recado está dado: deixa ela trabalhar. Nenhum assédio será tolerado.

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A responsabilidade sobre o assédio é do assediador | #CarnavalElesPorElas https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/02/05/carnavalelesporelas/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/02/05/carnavalelesporelas/#respond Mon, 05 Feb 2018 16:25:08 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1287
Foto: Paula Molina e Henrique Fernandes/Divulgação

Por Nadine Gasman, Representante da ONU Mulheres no Brasil

Não é de hoje que as mulheres estão lutando pelos seus direitos, mas a sensação é que finalmente o ponto de chegada está no horizonte. É que, se por um lado, ainda temos que enfrentar preocupantes demonstrações de conservadorismo que ameaçam seus direitos, por outro, estamos vivendo um tempo de importantes manifestações das mulheres e de suas organizações, que utilizam-se de diferentes espaços para ganhar força e se fazerem ouvir. 

Seja nas ruas, na TV, nas redes sociais, ou numa conversa, quando as mulheres compartilham as suas histórias de assédio sexual e criam uma rede de apoio, mostrando para o mundo a dimensão do problema, o papel dos homens é ouvir. Apenas ouvindo, reconhecendo o problema e se responsabilizando por ajudar a eliminá-lo, que os homens poderão apoiar as mulheres.

Movimentos como o #MeToo (“eu também”, na sigla em inglês), que viralizou nas redes sociais no último ano e chamou a atenção dos homens para os seus próprios comportamentos nocivos, não serão interrompidos no Carnaval. Isso porque a celebração, que é um patrimônio cultural do Brasil, é marcada também pela cultura do assédio sexual. Nos quatro dias de feriado do Carnaval do ano passado, a Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) registrou mais de dois mil atendimentos a mulheres vítimas de diversos tipos de agressão.

Dentro e fora do contexto de Carnaval, é preocupante quando, ao invés de procurar se educar sobre quais de seus comportamentos estão perpetuando essa forma de violência, os homens escolhem justificar o assédio como paquera. Esse questionamento é um recurso bastante utilizado para invalidar as denúncias das mulheres. As mulheres têm o seu espaço invadido, o seu corpo desrespeitado, os seus direitos violados, sua segurança ameaçada, e os homens seguem defendendo que o assédio era apenas uma paquera. Mas assédio NÃO É paquera.

Essa é a razão pela qual, neste Carnaval, o movimento de solidariedade pela igualdade de gênero ElesPorElas HeForShe, da ONU Mulheres, está lançando uma campanha para falar diretamente com os homens e apontar, de uma vez por todas, que o limite entre a paquera e o assédio é o RESPEITO.

O conceito  da campanha é extremamente simples e fácil de entender: a não ser que a mulher peça, ela não está pedindo. Se ela disse que não, ela não quis dizer que sim. Se ela se desviou, ela não quer ser tocada. Se ela não estava consciente, ela não concedeu nada.

Nós vamos expor da maneira mais óbvia para que não restem dúvidas: Quando falamos de respeito, não é difícil concluir que linguagem ofensiva não é elogio. Puxar o braço não é paquera. Insistir, quando ela já disse que não quer, não é legal. Se aproveitar fisicamente das mulheres em situações em que elas estão vulneráveis é estupro.

A paquera é saudável, divertida e dinâmica. O assédio é agressivo e acaba com a festa. Por isso, combater o assédio não significa que a diversão acabou. Significa que as mulheres também têm o direito de se divertir no Carnaval sem serem desrespeitadas. Não importa o tamanho da saia, nem o jeito que ela dança, nem o lugar onde ela estava. Se ela não concedeu, com linguagem verbal ou corporal, a abordagem é, de fato, assédio sexual.

A diferença é simples, mas o tema é complexo. Cabe aqui também uma reflexão sobre mudar a forma como nos relacionamos para que a mensagem fique mais evidente. É tempo de romper com a divisão dos papeis com base em estereótipos de gênero, onde os homens são dominantes no momento da paquera. É tempo de eliminar, de uma vez por todas, a ideia de “joguinho”, pois ele abre espaço para interpretações erradas de que pressionar, manipular e invadir o espaço das mulheres faz parte da paquera.

No entanto, a opressão ainda é muito presente, por isso o movimento das mulheres vem buscando criar condições mais favoráveis para que elas se sintam confortáveis para dizer NÃO para que os homens recuem. Isso requer a conquista de espaços seguros para que elas também possam exercer a sua liberdade de dizer SIM sempre que tiverem vontade.

A mensagem do #CarnavalElesPorElas é, portanto, bem simples. Homens, o negócio é o seguinte: a paquera não-agressiva e não-violenta está liberada. As mulheres poderão fazer o que elas estão a fim e os homens terão que respeitá-las. A responsabilidade do assédio é do assediador e não de quem é assediada.

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