#AgoraÉQueSãoElas https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br Um espaço para mulheres em movimento Wed, 15 Apr 2020 11:52:04 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Um mês sem Marielle: democracia, legado e a violência contra as mulheres na política | #AgoraÉQueSãoElas https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/04/14/um-mes-sem-marielle/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/04/14/um-mes-sem-marielle/#respond Sat, 14 Apr 2018 14:28:27 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1395 por Nadine Grassman e Flávia Biroli*

O assassinato da vereadora Marielle Franco nos coloca diante de um limiar. Décadas de construção democrática e de reconhecimento da violência de gênero, em leis e políticas públicas, foram insuficientes para poupar sua vida e a de outras mulheres.

Quando uma mulher negra, que moveu estruturas da periferia para o espaço da política, é morta, estremece o que foi construído para que a democracia seja um regime político e social. Nele, as mulheres devem ter assegurada sua atuação e integridade.

A violência contra as mulheres na política previne a participação e pune as que participam. Distorce representação e restringe o acesso à política de um grupo majoritário – as brasileiras são maioria da população e do eleitorado. Há, assim, impedimentos para que problemas como o da violência de gênero adentrem o debate político.

Na literatura internacional, a violência política contra as mulheres é tipificada como violência física, sexual, psicológica, simbólica e econômica. Corresponde a agressões, ameaças, assédios, estigmatização, exposição da vida sexual e afetiva, restrições à atuação e à voz das mulheres, tratamento desigual pelos partidos e outros agentes, incidindo sobre recursos econômicos e tempo de mídia para campanha política.

Marielle, mulher negra lésbica com origem na favela, era voz de quem não é ouvida nos espaços de poder. Como mulher negra e feminista, era um corpo incômodo, que expunha o caráter sexista, racista e lesbofóbico de práticas e instituições. Denunciando os assassinatos de jovens da periferia, ela reforçava no debate público as vozes de suas mães, de suas irmãs, fundadas na dor da perda, para driblar a desumanização. Denunciava que o Estado de Direito se assenta sobre “vidas matáveis” e práticas de extermínio.

O fato de que as vidas das mulheres continuem a ser ceifadas e que os corpos que caem sejam sobretudo corpos negros revela a insuficiência das garantias existentes e, de modo mais amplo, do Estado Democrático de Direito. O mesmo pode ser pensado sobre a participação política e os limites da democracia. O Brasil é 153º lugar no ranking da Inter-Parliamentary Union sobre mulheres nos parlamentos de 193 países. Na América Latina, o Brasil está à frente apenas de Belize e Haiti.

Sem confrontar a violência contra as mulheres na política, estaremos distantes não apenas da paridade, mas também da democracia. O comitê de monitoramento da Convenção de Belém do Pará no âmbito da Organização dos Estados Americanos (MESECVI) recomenda a adaptação dos instrumentos legais nacionais. Bolívia, México e Peru têm legislação específica, algo que nos parece necessário para o Brasil.

No caso brasileiro, essa violência também se expressa pela ofensiva contra a agenda da igualdade de gênero, com o objetivo de desqualificar a violência sexista e reduzir a participação política das mulheres. Fragiliza, ainda, as já insuficientes garantias para o respeito das pertenças de gênero, raça e identidade sexual.

O assassinato de Marielle Franco é paradigmático porque atinge a democracia como espaço de construção de alternativas. Parece-nos necessário partir do óbvio. A existência da democracia depende de que a participação política das mulheres seja assegurada e que a violência contra as que driblam barreiras e se fazem ouvir seja contida.

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* Nadine Gasman é representante da ONU Mulheres Brasil. Flávia Biroli é professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília.

 

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Movimento Black Lives Matter homenageia a vida de Marielle Franco | #AgoraÉQueSãoElas https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/03/25/black-lives-matter-homenageia-a-vida-de-marielle/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/03/25/black-lives-matter-homenageia-a-vida-de-marielle/#respond Sun, 25 Mar 2018 11:18:47 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1360

Black Lives Matter*

Em 14 de março de 2017, Marielle Franco, vereadora Afro-Brasileira, foi brutalmente assassinada no Rio de Janeiro, Brasil. Ela era uma defensora dos direitos humanos criada na favela e milhares de pessoas tem se reunido para lamentar sua perda. Os organizadores negros e negras no Brasil contactaram a Rede Global da Black Lives Matter, que juntamente com o resto do Movimento pela Vidas Negras, emitiram a seguinte declaração em apoio à nossa família no Brasil, e todos aqueles que defendem a libertação de todos os negros e negras pessoas em todos os lugares.

Ficamos indignados e arrasados ​​com o assassinato político de Marielle Franco, uma poderosa defensora da liberdade e defensora dos direitos dos negros e negras, moradores de favelas e outros alvos de violência policial no Brasil. Marielle era lésbica, vereadora Afro-brasileira do Rio de Janeiro que foi assassinada na quarta-feira, 14 de março em seu carro por lutar corajosamente contra a violência policial e a corrupção. Apenas duas semanas atrás, no domingo, 11 de Março, Marielle denunciou ações recentes de policiais militares que aterrorizavam moradores da favela de Acari; muitos acreditam que este foi a razão final de seu assassinato.

Em Abril e Novembro do ano passado, organizadores negros e negras de todos os EUA se encontraram e falaram diretamente com Marielle sobre nossa necessidade coletiva de construir o poder negro e negras e a solidariedade além das fronteiras. Estamos claros que, em todo o mundo, os negros e negras enfrentam padrões semelhantes de violência, por isso essa injustiça é pessoal. Nós lamentamos sua morte porque ela é uma das nossas, lutando pela libertação de todos os negros e negras, mesmo quando separados por fronteiras superficiais.

Este não é um momento para ficar calado ou com medo. A morte de Marielle e aqueles que perdemos na luta antes dela é um apelo por mais ação. Negros e negras do Brasil, nosso vínculo é profundo e ancestral. Quando vocês nos chamarem, estaremos prontos. Honraremos a sua liderança nos dias, meses e anos que se seguem até que tenhamos construído um movimento para todos os negros e negras alcançarem comunidades autodeterminadas e seguras em todo o mundo.

Por favor, visite para mais informações: mariellefranco.com.br/averdade


*Black Lives Matter é um movimento global de matriz Norte-Americana contra o genocídio negro e a marginalização das comunidades afro-americanas. Desde seu nascimento, tomou proporções globais, lutando por liberdade e igualdade em todo o mundo e reciclando o velho mantra “todas as vidas importam” para o aqui e o agora.

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#MariellePresente hoje e sempre! | #AgoraÉQueSãoElas https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/03/20/mariellepresente-hoje-e-sempre/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/03/20/mariellepresente-hoje-e-sempre/#respond Tue, 20 Mar 2018 18:17:36 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1348

por Muitas

O #AgoraÉQueSãoElas faz uma homenagem, no sétimo dia de morte, à memória da nossa amiga e colaboradora, Marielle Franco, mulher, negra, favelada, de axé, lésbica, jovem e defensora dos direitos humanos. Que o seu sorriso siga iluminando nossos caminhos.

 

Quando a mulher negra se movimenta, balança todas as estruturas. Marielle é vento forte! Seguiremos aqui, movendo e ventando juntas, com os ventos Oyá!

Jessica Ellen

 

“Marielle era a esperança personificada. Fazia com que a gente acreditasse que o mundo tinha jeito. Era a tranquilidade de que os nossos ideais seriam defendidos.”

Nathália Dill

 

“Abateram uma mulher! Mas sua morte acordou um país e o mundo se importou. Está viva Marielle:a mulher-tribo.”

Elisa Lucinda

 

“Quiseram calar uma voz de luta, mas nós em luto vamos amplificar mais e mais essa voz. Como velas nos acendemos umas nas outras e essa é a força luz de Marielle.”

Georgiana Goes

 

“Marielle solar. Mesmo nos piores momentos o sorriso imenso, contagiante, provocante, irreverente, penetrante, entrava por dentro da gente e a gente também sorria. Sorria porque acreditava nela, queria caminhar com ela. Queria sonhar com ela. Queria pensar num outro mundo que a gente de alguma forma acreditava estar criando junto. Em sua homenagem, minha querida, quero me permitir continuar a sonhar.”

Julita Lemgruber

 

“Marielle deixa não só sua filha, mas muitas meninas órfãs . O que me enche de esperança é ver que sua luta e força fortalece nossa capacidade de abraçar estas meninas e seguir com elas.”

Adriana Esteves

 

“Nina Simone disse que liberdade é não ter medo. Pois Marielle era livre e morreu assim. Essa qualidade dela que fascina o mundo, é também o terror daqueles que querem manter as coisas como são. Mas ela segue aqui, nossa heroína, debaixo de uma capa invisível. Nada mais terrível pra eles.”

Maeve Jikings

 

“Ninguém pode parar ou estancar o seu fluir. Cidadãos de bem, mulheres e mulheres negras juntas seguiremos. A luta não para!”

Cris Vianna

 

“Marielle é Dandara de nossos tempos. Incansável na luta contra a violência e pela garantia de direitos iguais a negros pobres mulheres e da população LGBT. Sua força guerreira é chama forte e viva em nós.”

Camila Pitanga

 

“Marielle é uma semente potente que espraia raios humanistas de diversas correntes! Mulher, mãe, livre, nascida e atuante nas favelas, negra,  ética, compassiva, combativa. O que sua voz continua a ecoar é sede, mais viva do que nunca, de justiça e de igualdade social! O Brasil está mais Presente com Marielle Presente. Viva pra Sempre.”

Letícia Sabatella

 

“A força da Marielle vai permanecer dentro de cada uma de nós.”

Claudia Abreu

 

“Tombaram uma de nós, uma de nossas lideranças, mas como resposta, se levantaram milhares de Marielles. A patir disso, nós mulheres negras não vamos permitir que essa dor se perpetue, vamos cada vez mais ocupar, resistir e além de tudo – ser felizes.”

Dríade Aguiar

 

“Marielle franca e legítima. Voz destemida que vinha unindo pontas e representando a nós todas. Marielle agora é estrela brilhante e poderosa que vai mudar a história de uma geração.”

Olivia Byigton

 

“Mari, a maior de todas nós. A favela, as mulheres, a juventude lá. Uma sobe e puxa a outra e Marielle puxou milhares.”

Dani Orofino

 

“Marielle agora é a estrela guia no deserto político que devemos superar. Ela nos ensinou que devemos ser fortes, que é preciso andar de cabeça erguida e peito aberto para transformar a sociedade em que vivemos.  Que o medo não pode ser maior que a luta antirracista e anticapitalista, que a luta antipatriarcal e antifascista. Que a luta do feminismo negro que ela encarnava em nome de tantas pessoas. A miséria material e espiritual que destruiu o seu corpo e a sua vida, não tem força para destruir a riqueza de seu legado político. Um dia seremos todas mulheres negras na política, o mundo será feminista e seus assassinos não serão lembrados nem como covardes. Marielle vive em cada uma de nós.”

Marcia Tiburi

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Pelo direito à maternidade https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/02/23/pelo-direito-a-maternidade/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/02/23/pelo-direito-a-maternidade/#respond Fri, 23 Feb 2018 14:25:20 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1313 Por Flavia Ribeiro de Castro*

A foto de Jéssica Monteiro, jovem de 24 anos presa em São Paulo por suspeita de tráfico de drogas, com seu bebê recém-nascido no colo me fez viajar para uma época em que fui diretora voluntária do Abrigo Butantã, na zona oeste de São Paulo. Por mais de quatro anos acompanhei de perto a chegada ao abrigo de crianças de 0 a 18 anos. Diferentes em tamanho, cor de pele e cabelo, em comum elas tinham o corpo curvado, a cabeça baixa e um olhar triste, quando não apavorado.

Em suas histórias, que por muitas vezes só conhecíamos após meses de convivência, quando finalmente conseguiam pronunciar as primeiras palavras, a lista de direitos violados me parecia inverossímil de tão desumana: estupros, exploração sexual, contato precoce com drogas lícitas e ilícitas, maus tratos físicos e sobretudo psicológicos estavam entre eles.

Encaminhadas pela Vara da Infância, vinham, mesmo quando diretamente do lar, com uma larga experiência de vida pelas esquinas cinzas, insalubres e frias da rua. Por alguma razão que não sei explicar, um dos motivos dos encaminhamentos logo me chamou a atenção: mãe presa.

Pertencendo a classes normalmente bastante desprivilegiadas em quase todos os sentidos, viviam anteriormente em lares onde a mãe era a figura principal, se não a única, que lhes dedicava cuidado, tempo e amor. Poucas tinham algum contato com o pai e muitas sequer sabiam se ele existia. Tendo a mãe subitamente subtraída de suas vidas, abria-se diante delas uma sinuosa estrada de desamparo e solidão.

A curiosidade por como se construía essa prisão materna, no desespero de entender e poder ajudar a evitar essa catástrofe com a qual eu me deparava a cada dia, me levou a passar um ano inteiro convivendo semanalmente dentro de uma prisão feminina.

As descobertas foram muitas, algumas desconcertantes. As adolescentes de ontem, ainda imaturas já estavam lá. Com 18, 19, 20 anos, as meninas mães, adultas em construção, rapidamente repetiam o destino de suas próprias mães. Duplamente marginalizadas pela condição social e pela feminina, frequentemente se enroscavam no tráfico de drogas por drogadição – remédio efetivo às violências vividas, para sustentar sozinhas os diversos filhos ou ainda para atenderem favores a figuras masculinas pelas quais guardavam gratidão e afeto.

O entendimento positivo do Supremo Tribunal Federal no sentido de que a maternidade é imprescindível, embora tardio, me trouxe alegria e esperança. A decisão poderá levar 10% de mulheres a deixarem o espaço prisional nos próximos 60 dias. O passo seguinte, aguardado com a mesma emoção, é o de que se desfaça a segunda circunstancialidade cruel : a prisão provisória por ação coadjuvante não violenta no tráfico de drogas, ato que em alguns países sequer é considerado crime.

Assim que esse novo ganho de consciência for conquistado, poderemos comemorar juntos o fato de que muitas outras crianças ganharão o direito de sonhar e de ter um futuro, uma vez que milhares de mulheres e mães retornarão para o lugar de onde jamais deveriam ter saído.


*Flavia Ribeiro de Castro é autora do livro Flores do Cárcere, romance que relata uma experiência humanitária na Cadeia Pública Feminina de Santos e fundadora do Instituto Flores, que trabalha pela reinserção de ex-detentas na sociedade.

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Mulher Peão: o que pensam os homens sobre as mulheres na construção civil | #AgoraÉQueSãoElas https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/02/22/mulher-peao/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/02/22/mulher-peao/#respond Thu, 22 Feb 2018 20:41:15 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1305 por Marina Sidrim Teixeira*

Nos meses de janeiro e fevereiro, nós, do instituto NOOS, conversamos com 800 trabalhadores da construção civil – homens –, numa pesquisa realizada em parceria com o SECONCI e financiada pelo Instituto Avon. A pesquisa tinha como foco investigar como esses homens percebem as relações e a violência de gênero, e como encaram a presença de mulheres como suas companheiras de trabalho, no espaço da construção civil. Vale dizer que a presença feminina, hoje restrita a 3% (de um universo de 37.494 trabalhadores), aumentou muito no Rio de Janeiro quando da realização das obras para os recentes megaeventos esportivos que aconteceram na cidade. 

A pesquisa faz parte de um projeto mais amplo, o “Equidade em Construção”, cujo objetivo é contribuir para o engajamento do setor da construção civil do Rio de Janeiro no combate à violência de gênero e doméstica contra a mulher. Para pautar as demais ações que compõem o projeto, buscamos entender mais detidamente o fenômeno da violência de gênero no contexto da construção civil, mapeando o perfil socioeconômico dos trabalhadores, suas atitudes e seu comportamento frente às mulheres, bem como sua opinião sobre a entrada das mulheres no setor.

Entre os muitos resultados reunidos no relatório da pesquisa, alguns pontos chamam a atenção em especial:  

  1. A grande defasagem entre o discurso e a prática dos entrevistados: embora muitos revelem uma certa consciência do que seria desejável em termos de uma maior equidade de gênero, a maioria mantém ainda posições comportamentais arraigadas ao modelo hegemônico de subordinação da mulher ao homem e à divisão sexual do trabalho.
  1. Os trabalhadores tendem a ter uma maior percepção da violência doméstica contra a mulher quando praticada por outros homens que não eles: perguntados diretamente se achavam já ter agredido uma parceira de alguma maneira, somente 26% responderam afirmativamente – uma cifra bem inferior aos 61% que afirmaram ter conhecimento de agressões praticadas por outros homens. Entre as agressões admitidas pelos próprios entrevistados, predominam as de ordem psicológica, seguidas pela física.
  1. De um modo geral, os trabalhadores demonstraram ter consciência das dificuldades de diversas naturezas na integração da mulher nos canteiros de obras – e se revelaram dispostos a enfrentar estas dificuldades.
  1. Tanto o conhecimento dos temas de gênero quanto as posições em relação ao assunto se mostraram bastante homogêneos na categoria – ou seja, os resultados obtidos para o conjunto dos trabalhadores da construção civil não tiveram grandes variações em função dos cargos ocupados e trabalhos exercidos pelos entrevistados.

Vamos aqui nos deter mais no primeiro desses pontos: a dissonância cognitiva – isto é, o descompasso entre a atitude e o comportamento dos trabalhadores –, observando mais de perto resultados da pesquisa que explicitam e detalham esse descompasso:

  • Ao expor a sua opinião sobre quem pode desempenhar algumas tarefas do cotidiano, tendo como alternativas “só mulher”, “só homem” e “homem e mulher”, os entrevistados escolheram predominantemente a terceira alternativa, para todas as atividades. Esse resultado poderia levar a crer que o caminho para uma relação com mais equidade já estivesse bastante avançado; contudo, a ordenação dos percentuais dentro das respostas “ambos” mostra que as escolhas, mesmo revelando surpreendente evolução, ainda são balizadas pelos papéis tradicionais atribuídos a homens e mulheres na nossa sociedade.
  • Essa cristalização dos papéis de gênero fica ainda mais evidenciada quando são analisadas quais tarefas são percebidas como somente realizáveis pelo homem ou pela mulher: caberiam somente a elas as tarefas domésticas e somente a eles, principalmente, os pequenos consertos em casa (54%), garantir o dinheiro necessário para o sustento da casa (31%) e ter a última palavra nas decisões importantes para a família (18%).
  • O nível de concordância dos trabalhadores com algumas máximas disseminadas pelo senso comum mostrou que as respostas privilegiaram a defesa da não interferência externa em brigas de marido e mulher (manutenção do assunto no nível do privado) e a legitimação da defesa da honra. Mais da metade concorda também que a lei Maria da Penha “interfere em situações que deveriam ser resolvidas unicamente pelos casais” – ainda que 79% avaliem que a lei “ajuda o homem a conter sua agressividade”.
  • A afirmação de que “existem momentos nos quais a mulher merece apanhar” obteve um expressivo grau de discordância:  94% dos trabalhadores discordaram da afirmativa – evidenciando que, no plano do discurso, este é um “valor” praticamente descartado. No entanto, quando questionados sobre “em quais situações você acha justificável um homem agredir fisicamente uma mulher”, esses mesmos trabalhadores assim se posicionaram: 41% disseram que quando ela trai; 22% quando ela se comporta ou se veste de forma provocativa; 15% quando ela não cuida bem dos filhos; 13% quando ela bebe ou tem outros vícios; 4% quando ela dispara a falar e não o escuta; 3% quando ela não cumpre suas tarefas domésticas; 2% quando ela não quer transar quando ele quer. Essa contradição, já expressa em outras pesquisas, mostra que na prática o recurso à agressão física ainda figura no repertório do homem – mesmo quando ele racionalmente já sabe que essa atitude não é “politicamente correta”. O fato de a traição feminina ser a maior causa de agressão justificável também evidencia a permanência do sentimento de posse sobre a mulher.
  • Em resposta livre, aqueles que assinalaram a alternativa “outros motivos pelos quais achavam justificável agredir fisicamente a parceira” mencionaram tanto razões relativizantes (do tipo “depende da situação”) como, principalmente, o revide a situações nas quais a mulher agrediu primeiro e o homem teve que agir “em legítima defesa” – respostas que, em última instância, responsabilizam a mulher por deflagrar a violência ou, no mínimo, dão conta de que as agressões devem ser entendidas na relação.
  • A grande maioria dos trabalhadores tem uma visão positiva da mulher em funções operacionais da construção civil e usa preferencialmente a palavra “guerreira” para expressar sua admiração por ela. Pensam que a mulher deve ter salário e tipo de contrato iguais aos dos homens e, em menores proporções, acham que deveriam ter uma jornada de trabalho também igual. Contudo, como outras pesquisas já haviam registrado, preferem que essa mulher não seja a sua mulher.
  • Os que têm uma visão negativa, ou são explicitamente contra o ingresso da mulher no setor, apoiam-se em razões bem “tradicionais” para justificar sua posição: condições físicas diferenciadas, falta de habilidade para as funções, necessidade de longos afastamentos por causa da gravidez e a defesa da mulher restrita ao desempenho de funções de mãe e dona de casa. Alegam também que seriam necessárias muitas modificações nos canteiros para receber as mulheres trabalhadoras.
  • Esse ponto – a necessidade de adaptações no espaço de trabalho – tem a concordância da maior parte dos trabalhadores, que até mesmo fizeram uma longa lista de modificações que julgam necessárias, visando principalmente a criação de espaços próprios para elas – o que denota não apenas cuidado e atenção para com as mulheres, mas também o desejo de garantir a permanência de um espaço para o convívio exclusivamente masculino ao qual estão habituados.  
  • Em resposta livre, os trabalhadores mencionam também uma extensa quantidade de mudanças comportamentais que precisariam operar em si mesmos para que a inserção feminina possa ter êxito, sendo as principais: mudanças no comportamento geral, com mais respeito (30%); redução do machismo (19%); mudança de linguagem e do tipo de conversa (11%); mais educação, treinamento e qualificação (6%) e redução de preconceitos em geral (3%).

Longe de pintar um cenário desanimador, as contradições identificadas pela pesquisa parecem indicar uma tendência positiva: os trabalhadores têm a consciência de que serão necessárias muitas mudanças no canteiro e em si mesmos para a entrada das mulheres no setor – e se mostram dispostos a aceitar esse desafio. Entre aqueles que declararam que as mulheres podem entrar na construção civil, somente 7% disseram não querer trabalhar ao lado de uma mulher. Paralelamente, 86% manifestaram desejo de participar de palestras sobre o assunto, para se sentirem mais seguros e poderem lidar melhor com as trabalhadoras mulheres no canteiro de obras.

Embora ainda possa ser vista como incipiente, uma mudança positiva está em curso na relação pessoal e profissional entre homens e mulheres – mesmo quando se tem como foco um setor tradicionalmente masculino do mercado de trabalho, cujas funções operacionais são exercidas predominantemente por homens com baixo nível educacional e pertencentes a setores sociais menos favorecidos social e economicamente. Nas palavras de um trabalhador:

“Fico feliz de ver uma mulher guerreira. O mercado está aberto pra elas e fico feliz e orgulhoso. Não só o homem pode crescer. Tem homem que limita a mulher e elas têm capacidade para ser uma pedreira… uma profissional. As mulheres estão muito presas dentro de casa” – reação de um soldador, carioca, preto, evangélico, de 33 anos, com primeiro grau incompleto, à foto de mulheres pedreiras mostrada a ele durante a pesquisa.  


Marina Sidrim Teixeira, paraense de 69 anos, é socióloga e mestre em filosofia da educação, pesquisadora e consultora de metodologia de pesquisa. Tecnologista sênior em informação geográfica e estatística aposentada do IBGE, é coordenadora de pesquisa do Instituto Noos e diretora do Instituto Fatos de Consultoria e Pesquisa. Os dados aqui apresentados integram seu relatório da pesquisa “MAPEAMENTO DAS PERCEPÇÕES SOBRE GÊNERO E VIOLÊNCIA DE GÊNERO ENTRE TRABALHADORES DO NÍVEL OPERACIONAL DA CONSTRUÇÃO CIVIL”, realizada no Rio de Janeiro em janeiro e fevereiro de 2017.

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Leandra Leal: O Portal da Utopia https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/01/29/leandra-leal-o-portal-da-utopia/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2018/01/29/leandra-leal-o-portal-da-utopia/#respond Mon, 29 Jan 2018 21:18:43 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1259 por Leandra Leal*

Eu sou uma apaixonada por carnaval e não sei falar sobre isso sem amor. Eu costumo dizer que o melhor carnaval é sempre o seu. Não se deve comparar celebração. No meu caso é o da minha infância, do centro do Rio de Janeiro, de Paquetá, dos blocos tradicionais, das escolas de samba, do terreirão…

Quanto pior o mundo, melhor o carnaval”, me disse a minha sócia Carol Benjamin antes do carnaval de 2016. O medo do futuro era palpável. A crise política, social, econômica e ética era devastadora. A cidade do Rio de Janeiro estava toda em obras e os blocos tradicionais foram realocados em trajetos sem estrutura e prestígio. Achávamos que já estávamos no fundo poço, no auge do caos. Nossa resposta? Sair na rua e celebrar a vida.

Só que no Brasil, o fundo do poço foi redefinido várias vezes ao longo desse período. E no ano seguinte, em pleno carnaval de 2017, a resistência se fez vista no maior “Fora Temer” transmitido em pleno Jornal Nacional. Carnaval é celebração, assim como o aniversário. É um momento de exaltação da existência, só que não é pessoal – e sim da nossa identidade como nação.

Reagimos aos retrocessos com purpurina – se engana quem acredita que a reação com folia é menor. Não se trata de alienação, pelo contrário: é resistência, é construção. É luta sair vestida do seu sonho, da sua fantasia, do seu querer. É  batalha expor seu corpo e sua verdade. O transe carnavalesco nos embute de coragem e nos arma contra a caretice, a repressão, o conservadorismo. E é lindo entender que alguém que pensa muito diferente de você goza desse mesmo direito e isso não te agride. A rua por onde passa um bloco, abriga as maiores rivalidades que seriam impossíveis de se conviver numa timeline. Esse é o portal que precisamos cruzar e gozar todo ano para reencontrarmos nossas utopias.

No passado, existia a certeza que nossos filhos viveriam num mundo melhor que o nosso e se trabalhava para isso. Era um consenso, um desejo e um objetivo de todos. Hoje o mundo está tão confuso que temos a certeza do contrário – o que verá são perdas de direitos, desigualdades, destruição do nosso planeta. É comum nos pegarmos fazendo planos de como nos salvar e levar os próximos. Vamos nos contentar com isso? Estamos trocando a utopia pela distopia.

Mas a cada carnaval, temos novamente a oportunidade de romper o condomínio e a bolha do facebook e atravessar o portal da utopia. Retomar a ideia de um mundo igualitário, a favor da liberdade, do amor, do encontro, da arte, da celebração, contra o proibicionismo, a caretice, o machismo, a homofobia, a violência. Nesse momento em que estamos perdendo direitos essenciais em mudanças orquestradas por um governo sem legitimidade, que temos nossas folias controladas Crivellas e Dorias precisamos sair às ruas e gritar: o carnaval é nosso, o sonho é nosso!

Esse carnaval também pode ser o da afirmação das pautas que estão latentes na sociedade, parte da construção desse novo normal, como diz a Antonia Pellegrino, da mulher sair com o seu corpo de biquíni na rua e não ser importunada, de duas pessoas do mesmo sexo caminharem livres de mão dadas, da mistura de classes. Todos livres na mesma rua por onde o seu bloco passar.

No dia 10 de fevereiro de 2018, precisamos usar a abertura desse portal da utopia para lembrar quem nós somos e o que queremos.

* Leandra Leal é atriz

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Resgatando o retrato do Brasil que somos https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2017/12/20/resgatando-o-retrato-do-brasil-que-somos/ https://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2017/12/20/resgatando-o-retrato-do-brasil-que-somos/#respond Wed, 20 Dec 2017 05:03:22 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/?p=1245 Por Bila Sorj e Lena Lavinas*

O sociólogo Robert Merton cunhou a expressão “a profecia que se autorrealiza” para descrever uma situação imaginária que é proclamada como acontecendo ou prestes a acontecer, e que acaba por se transformar em realidade na medida em que as pessoas passam a nela acreditar. Este conceito ilustra bem o processo político que vivemos hoje no país. Forças conservadoras, com uma agenda regressiva sobre direitos reprodutivos, têm se mobilizado no Congresso para aprovar a PEC 181, ameaçando conquistas que asseguram às mulheres o aborto em casos já previstos em lei, inclusive o aborto decorrente de estupro, em vigor desde 1940. Cabe recordar que o registro diário de estupros no Brasil atinge a cifra alarmante de 135.

A mobilização do movimento feminista tem impedido com sucesso até agora mudanças no texto constitucional que penalizem as mulheres, criminalizando ainda mais a prática do aborto que, sabemos, é uma realidade incontornável. São realizados cerca de 500 mil abortos clandestinos por ano e morrem mais de 500 mulheres em decorrência de complicações de procedimentos feitos sem protocolo seguro.

Esta agenda regressiva reflete normas patriarcais de gênero e reforça estereótipos sexuais anacrônicos. Porém, não representa todo o campo religioso neopetencostal e católico e, muito menos, a pluralidade de posições de seus fieis. Católicas pelo Direito de Decidir e a Frente Evangélica pela Legalização do Aborto são duas importantes organizações feministas, que professam a fé cristã mas nem por isso curvam-se a dogmas religiosos que contestam o livre arbítrio das mulheres e sua liberdade de escolha, consciente e responsável.

Na realidade, o Brasil vive um momento extremamente perigoso. Lideranças e grupos políticos, em busca de protagonismo, exploram a crise econômica e o mal-estar da população com o sistema político para veicular, com alarde e intimidação, um discurso baseado em sentimentos de medo e ansiedade, acenando com bandeiras retrógradas, que alimentam a intolerância, a discriminação e a segregação.

Mas será esse o Brasil em carne e osso, cuja imagem tanto nos surpreende e causa estranheza? Ora, pesquisas de opinião recentes revelam que o discurso conservador não representa o “povo”, senão interesses de minorias bem articuladas que tentam fazer regredir os valores baseados nas noções de direitos, igualdade, liberdade, autonomia das mulheres, valores esses que, desde a Constituição de 1988, e pelo ímpeto do movimento feminista, vêm construindo um Brasil mais justo e mais humano para todos.

É o caso da pesquisa nacional divulgada pelo Instituto Ideia Big Data, de orientação liberal. Entre outras informações relevantes, como o apoio majoritário dos brasileiros a políticas de cotas raciais nas universidades (57,2%), a casamentos homoafetivos (65%), ou a preferência por melhores e mais amplos serviços públicos (79,4%) ainda que ao preço de um aumento dos impostos, mostra-se expressiva a parcela da população – 60% – que rejeita a ideia de punição criminal para mulheres que praticam abortamento, qualquer que seja a circunstância.  

Este é o Brasil real, o Brasil majoritário, que devemos defender dos falsos profetas que querem nos fazer crer que o país carrega nas suas entranhas autoritarismo, prepotência e malquerença.  Não se pode permitir que se cristalize entre nós uma visão de que a maioria da nação está orientada por valores conservadores, influenciando inclusive a postura de políticos que sempre professaram valores liberais. Ou recuperamos e reafirmamos a narrativa de um país que, apesar dos percalços, muito avançou nas últimas décadas no campo dos valores e das aspirações democráticas ou seremos prisioneiros de profecias que se autorrealizam.  

As mulheres brasileiras têm demonstrado vigor e determinação em extinguir o mantra do mal.

*Bila Sorj é Professora Titular do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ e Lena Lavinas Professora Titular do instituto de Economia da UFRJ

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Por Marielle Franco*

Eu não sou mulher, não sou negro e não sou favelado. É por isso que votarei em você, Marielle”. Essa foi a declaração de voto que mais me inspirou durante a campanha eleitoral para vereadora do Rio de Janeiro. Mas essa frase, ao mesmo tempo que dá credibilidade e legitimidade às nossas propostas e ao simbolismo de nossa representação política, também é desafiadora. Tanto que as pessoas teimam em perguntar: Como explicar os 46.502 votos? Ainda é “prematuro” apresentar uma avaliação que traga uma resposta “concluída”, com o mapa eleitoral cruzado com a diluição da campanha pela cidade. Mas há pistas que permite uma qualificada análise inicial.

Um dos elementos que nos ajuda a pensar é o gargalo que existe entre a política institucional e a participação das pessoas nos espaços de decisão. Sim, trata-se da tal representatividade que a conjuntura política exige. Com a campanha foi possível colocar em foco a delegação da representação, criando expectativa do exercício do mandato institucional manter a mesma proximidade que levaram aos mais de 46 mil votos.

As minhas identidades, enquanto feminista, negra e cria da favela foram ressaltadas na campanha, porque é o que me compõe enquanto sujeita política e humana. São a partir dessas vivências, por vezes subjugadas por nossa sociedade predominantemente machista, racista e desigual, que experimento a cidade em sua complexidade. E nosso programa, nossas propostas e o simbolismo ético e estético se apresentaram cerzindo debates e identificações com essas especificidades.

Trata-se de diferenças e alternativas políticas em um quadrante no qual o conservadorismo, principalmente nas Casas Legislativas, amplia-se. Lideradas por homens brancos, que, na maioria das vezes, colocam suas opções religiosas acima dos interesses públicos, as casas parlamentares, no ano de 2015, notabilizaram-se por atentados aos direitos das mulheres. No âmbito federal, o projeto de lei 5.069 de Eduardo Cunha buscou criminalizar ainda mais as mulheres que sofrerem aborto. Na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro foi criada uma CPI do Aborto que tentou fazer com que todos os hospitais que recebessem mulheres com quadro de aborto, natural ou não, notificassem à polícia. A repulsa e a onda de protestos contra a tentativas de legislar sobre o corpo das mulheres ecoaram por todo o Brasil e mexeram nessas eleições. Como contradição desse processo, um dos quadros visíveis foi a enxurrada de votos em candidatas declaradamente feministas, como Áurea Carolina, a mais votada na capital mineira com 17.420 votos e Talíria Petrone, a mais votada em Niterói, com 5.121 votos. Ambas do PSOL.

No Rio, recebemos votos do Jardim Botânico à Maré. Sim, a classe média alta votou em nossa proposta. Nossos votos não estão geolocalizados nas favelas e nos confirmaram como uma parlamentar da cidade e não de um “distrito” específico. Mas o Ubuntu regeu a nossa campanha. De qualquer forma, é possível acreditar que são pessoas que estão distantes da política institucional e nos enxergaram como uma aproximação democrática. Esse foi um desafio que nos fortaleceu no trilho junto ao Freixo, o que também foi uma das marcas de identidade das campanhas proporcionais e majoritária. Chegamos ao segundo turno e conquistamos a segunda maior bancada para a próxima legislatura na Câmara do Rio.

Os votos nas urnas expressam vitórias política, simbólica e programática.

Eu sou vereadora porque nós somos necessárias.

*Marielle Franco, Vereadora eleita com a quinta maior votação da Cidade do Rio de Janeiro. 

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