Livro aberto para vencer o autoritarismo de Bolsonaro
Por Valéria Correia*
A Bienal Internacional do Livro de Alagoas, a única do Brasil produzida por uma universidade pública, nesta semana ocupa as ruas do histórico bairro de Jaraguá para levar uma vasta produção cultural aos alagoanos. Em tempos de ataques às instituições de ensino públicas, o maior evento cultural e social de Alagoas segue a sua programação até o dia 10 de novembro com tema “Livro aberto: leitura, liberdade e autonomia” e diz não ao autoritarismo, se colocando aberta para a diversidade de pensamento crítico.
A Bienal é coordenada pela professora Elvira Barreto que também dirige a editora da Universidade de Alagoas (Edufal). A nossa gestão é composta majoritariamente por mulheres pró-reitoras, que além de quadros técnicos da administração pública são brilhantes cientistas. Somos a gestão que dobrou a Ufal de tamanho em área construída, entregando 26 prédios e o maior Complexo Esportivo do nordeste. Crescemos com qualidade e entramos no ranking Times Higher Education como uma das melhores universidades do mundo.
Liberdade e autonomia na produção científica são essenciais para a função civilizatória da Ciência e da Universidade. Nesta direção, segue a brilhante definição de Universidade expressa pelo professor Gilberto de Macedo no livro “Universidade Dialética”, publicado em 1985: “A Universidade autêntica é reflexiva, compreensiva, criadora. Isso mostra logo que ela não é acomodada, passiva ou omissa. Mas crítica, ao permitir o conhecimento, dos homens [e das mulheres] e das coisas através do pensamento dialético […]” (MACEDO, 1985).
Entretanto, na direção contrária, observamos uma tendência ao Anti-intelectualismo, ao anticonhecimento, à anticiência, e ao recrudescimento do conservadorismo, com tentativas de imposição de um pensamento único. Movimentos autoritários expressos nas perseguições a pesquisadores, ataques às Universidades, como nas propostas da Escola sem Partido, do fim da Filosofia e da Sociologia nas Universidades e nas Escolas, além da militarização das escolas públicas.
É neste palco de acontecimentos que a Ufal realiza a 9ª edição da Bienal, reafirmando a importância da leitura, da educação, do conhecimento, da ciência, da cultura e da arte, como fundamentais para uma sociedade mais humana, mais desenvolvida e menos desigual.
Homenageamos as mulheres lutadoras, que muitas vezes são invisibilizadas pela sociedade, mas – sabemos e queremos destacar – que contribuem definitivamente com a história de Alagoas a partir dos interesses das mulheres oprimidas. Esta homenagem põe em evidencia e valoriza as mulheres marisqueiras, trabalhadoras rurais sem terra, indígenas, quilombolas, sem teto, e de religião de matriz africana. Especialmente, no contexto da cultura ao estupro e à misoginia, nutrida pelos que vêm de cima.
Esta Bienal convoca à defesa da educação, da Universidade, da ciência, da cultura, da arte e da liberdade! Pois somos da terra de Dandara e Zumbi dos Palmares, Artur Ramos, Aurélio Buarque de Holanda, Graciliano Ramos, Jorge de Lima, Nise da Silveira, Octávio Brandão, Théo Brandão, Newton Sucupira, e de tantos outros homens e mulheres que orgulham o nosso povo. Viva a soberania da nossa gente e do nosso País!
*Valéria Correia é Reitora da Universidade Federal de Alagoas.