Chá das Mina – Grupo de mulheres: Estratégia de cuidado em saúde mental e redução de danos
*Por Tatiane Fuggi. Carolina Pommer e Laís F. Roscoche
Em 2017, Tatiane Fuggi, que é psicanalista, e Carolina Pommer, que é atriz com especialização em saúde mental, idealizaram um espaço específico para escuta de mulheres em situação de rua, compondo as atividades do Instituto Arco-íris de Direitos Humanos. Esta atividade foi até meados de 2018, findando por diversos motivos. Nesta nova edição, nomeado como Chá das Mina que deu início em março de 2019, além das duas profissionais a estudante de psicologia da Estácio, Laís de Farias Roscoche somou forças neste espaço de escuta e estratégia de cuidado em saúde mental, que é aberto para as mina, para as mana e para as mona. Todas são bem vindas. O chá é mais do que um hábito. É uma troca de saberes e afetos, é o fortalecimento da autonomia do cuidado sobre si. Não à toa, fomos consideradas bruxas na antiguidade porque detínhamos os saberes sobre as plantas e as medicinas. O Chá das Minas é um resgate do apoio mútuo entre as mulheres. Todas as quartas-feiras das 14h às 15h30, este grupo de mulheres reúnem-se para tomar chá, como forma de acolhimento feminino, falando das ervas e plantas e seus benefícios. Mas desde aí a interação já acontece: a troca de saberes não vem de uma única direção. O saber é compartilhado e os corpos são políticos. Debatemos e aprofundamos temas como: auto-cuidado em saúde mental, uso de drogas, prostituição, relações amorosas, família e/ou cuidadores familiares, violência contra a mulher, cuidados físicos e emocionais diários, mulher em situação de rua, entre outras temáticas. O ambiente confortável físico e emocional, favorece a ampliação das reflexões sobre cada corpo feminino, priorizando o singular dos corpos. Assim, a troca de experiências através de oficinas semanais proporciona não só o auto-cuidado transformador, mas o cuidado recíproco, o cuidado e respeito com o outro corpo feminino, quebrando a ideia da rivalidade e competitividade feminina.
Aline Sales, liderança feminina do Movimento de População em Situação de Rua, conta: “O chá das Mina pra mim significa um auto-cuidado imenso. Ali, entre só meninas da rua a gente aprende a cuidar da saúde, nós falamos sobre assuntos psicológicos, nós conversamos muitas coisas lá, que não conversamos com os piá da rua. O que acontece ali, fica ali. É muito legal a conversa, você se abre (…) Eu, por mais louca que eu seja na rua, ali eu me sinto bem, me sinto acolhida. Eu não faltei nenhum dia desde que começou e adoro o Chá das Mina”.
Já Melanie, militante do Movimento de População em Situação de Rua, conta: “O Chá das Mina é espaço das mina, das mana e das mona. Onde a gente consegue refletir sobre a gente, sobre o espaço das mulheres, refletir sobre auto-cuidado e o cuidado uma com o coletivo das mana (…) Saber que toda quarta-feira eu vou poder sentar com as mina e trocar aquela ideia que só a gente entende de uma pra outra, aquela sintonia”.
Além das rodas de conversa são realizados exercícios sensoriais e atividades culturais que buscam o reencontro destas pessoas com suas capacidades criativas. Através destas vivências o cuidado mútuo é trabalhado na prática, como forma de abertura do corpo ao sensível. Mas nada disto estava dado de maneira natural. As facilitadoras tem semanalmente o compromisso de resgatar valores como: sigilo ético do grupo, cuidado com as palavras (ou comunicação não agressiva), toque respeitoso e cuidado com a diversidade de corpos femininos. Nesse sentido, reflete o compromisso com a implementação de ações de saúde que contribuam para a garantia dos direitos humanos das mulheres. Visamos à parceria com diversos setores da sociedade, formando assim um movimento de mulheres. É, acima de tudo, uma proposta de construção conjunta e de respeito à autonomia das diversas parcerias, entes fundamentais para a concretização das políticas, enfatizando a importância do empoderamento das participantes. A situação de saúde envolve diversos aspectos da vida, como a relação com o meio ambiente, o lazer, a alimentação e as condições de trabalho, moradia e renda. No caso das mulheres, os problemas são agravados pela discriminação nas relações e a sobrecarga. Outras variáveis como raça, etnia e situação de pobreza realçam ainda mais as desigualdades. As mulheres vivem mais do que os homens, porém adoecem mais frequentemente. A vulnerabilidade feminina frente a certas doenças e causas de morte está mais relacionada com a situação de discriminação na sociedade do que com fatores biológicos. A atividade visa o vínculo entre as mulheres e acredita que a troca de saberes em especial em roda de conversa, contribui significativamente para a promoção da saúde da mulher e mudança de postura frente a vulnerabilidade do seu dia a dia.
*Carolina Pommer – Atriz (2008 UFRGS), especialista em saúde mental ( esp RS 2011), mestra em saúde coletiva (UFRGS 2014). Atualmente no instituto Arco-íris de direitos humanos, já trabalhou em caps ad 3, em oficinas terapêuticas, e com redução de danos junto a população em situação de rua, sempre alinhado o teatro e a arte com o cuidado em saúde mental.
Tatiane Fuggi – Psicóloga e Analista Praticante pela Escola Brasileira de Psicanálise- Seção Santa Catarina. 7 anos de atuação à projetos sociais pelo Instituto Arco-íris de Direitos Humanos.