Trio de arbitragem brasileiro pode apitar finais da Copa feminina
*Por Amanda Célio
Pela primeira vez na história da Copa do Mundo de Futebol Feminino um trio de arbitragem brasileiro está confirmado até a final do torneio. A confirmação saiu nesta quarta-feira (26) e a dúvida era quais dos trios sulamericanos Uruguai, Brasil e Chile seguiriam no Mundial. Brasil e Uruguai estão na lista confirmada pela Fifa.
Com essa notícia, a juíza Edina Alves e as auxiliares Neuza Back e Tatiane Sacilotti seguem até os jogos da final da Copa, porém sem a definição se o trio brasileiro estará escalado para a decisão do terceiro e quarto lugar ou para grande final da Copa Feminina.
A conquista inédita é fruto de um longo processo de aperfeiçoamento que começou em 2015, com a instrutora da Fifa e Coordenadora de Arbitragem Feminina da CBF Ana Paula Oliveira e a psicóloga da CBF Marta Magalhães.
Elas iniciaram um projeto de treinamentos intensivos com o trio feminino, considerado o mais experiente do quadro FIFA, almejando a possibilidade de levá-las para a França. Também é a primeira vez que um trio completo participa do Mundial (na última Copa, a árbitra mineira Janette Arcanjo foi a única representante brasileira, atuando como assistente de arbitragem no jogo entre Holanda e China e ficando como reserva em outras duas partidas).
Desde então Edina, Neuza e Tatiane trabalharam em competições nacionais e internacionais. Antes de começar o torneio mundial, elas se mudaram para São Paulo e foram treinadas pela Federação Paulista para aumentarem o aproveitamento nos jogos, já que as três são de cidades diferentes.
Ainda assim, o trio só apitou uma partida da primeira divisão do campeonato brasileiro masculino, entre CSA x Goiás, uma rodada antes da viagem para França. Na Copa Feminina, o último jogo apitado pelo trio brasileiro foi no dia 25 de junho, entre Itália e China, pelas oitavas de final, o terceiro das brasileiras na competição.
Mesmo representando o Brasil num torneio mundial, a invisibilidade do trio de arbitragem continua nos veículos de comunicação por aqui. Até agora, a notícia não foi veiculada em nenhum portal de notícia. Mas, a confirmação da equipe de arbitragem brasileira comandada por Wilton Sampaio no jogo entre Uruguai e Peru, na Copa América de Futebol Masculino, foi noticiado hoje. Essa disparidade entre as notícias de árbitros e árbitras não é novidade, tendo suas raízes fincadas na desigualdade de gênero no esporte.
No caso das juízas, essa realidade, pode até, na verdade, ser pior do que as enfrentadas pelas jogadoras. Além do machismo, misoginia, preconceito (percalços cotidianos na vida de qualquer mulher), o alto investimento requerido para se tornar uma árbitra profissional não é recompensado pelo quase nulo número de partidas que elas são escaladas para trabalhar.
Para se ter uma ideia, no quadro da CBF, por exemplo, que conta com 17 árbitras, elas passam pelo mesmo nível de exigência dos árbitros em testes físicos e também possuem o mesmo índice necessário para apitar a primeira divisão do futebol brasileiro. No entanto, em 2017, dos 42 árbitros, 35 foram escolhidos para trabalhar na série A e nenhuma mulher foi escalada.
Por isso, estarem escaladas até a final do Mundial é mais uma grande vitória do futebol feminino brasileiro na luta pela visibilidade. E que essa vitória possa representar um novo marco da trajetória tão calejada da arbitragem feminina no Brasil.
*Amanda Célio é jornalista, feminista e atleta de sofá.