Você vê uma menina, nós vemos o futuro

#AgoraÉQueSãoElas

*Por Leticia Bahia


Meninas são poderosas. Quando elas têm acesso à educação, saúde e segurança, elas transformam suas comunidades. Essa é a crença motriz da campanha global que estabeleceu, em 2012, o dia 11 de outubro como Dia Internacional da Menina.

A iniciativa mira diretamente na chamada Agenda 2030 da ONU, que estabelece 17 metas globais pra que alcancemos o desenvolvimento sustentável. No coração do Dia da Menina está o objetivo número 5: a igualdade de gênero.

A questão é central no Brasil, especialmente em um contexto eleitoral em que o voto feminino e as pautas das mulheres têm se mostrado chave para qualquer desfecho que se abra nos próximos meses. As meninas adolescentes, no entanto, encontram pouco lugar nesse debate.

Meninas quase sempre são enquadradas ou como crianças ou como mulheres. Com isso, apagam-se questões decisivas para o futuro delas – e para o nosso futuro. É na adolescência que meninas costumam iniciar sua vida sexual e que a orientação afetivo-sexual ganha contornos mais nítidos, para citar apenas dois marcos específicos dessa faixa etária que, se não forem devidamente cuidados, podem deixar um rastro de problemas que vão de transtornos emocionais à evasão escolar. E há, é claro, aquela que talvez seja a questão que mais corrói futuros quando se fala em meninas: o casamento infantil, drama no qual o Brasil ocupa uma vergonhosa quarta posição no ranking mundial de números absolutos.

Mas a certeza de que meninas são o futuro vem ampliando o leque de projetos que não querem apenas falar sobre e com meninas. O esforço desses grupos é para que a voz que se ouça seja a voz das próprias meninas.

Tenho o prazer de encabeçar um desses projetos: O Girl Up é um movimento da Fundação ONU de e para meninas que mobiliza, inspira, reúne, treina e conecta meninas do mundo inteiro, ajudando a posicioná-las como líderes e agentes da transformação. No Brasil, apoiamos meninas para que se organizem no que chamamos de Clubes: coletivos que promovem a igualdade de gênero globalmente. Hoje, quase 2 mil Clubes Girl Up em mais de 90 países representam uma força comprovada pela mudança.

Para citar uma conquista notável, em 2015 os EUA aprovaram uma legislação que inclui medidas contra o casamento infantil na política externa do país. Por meio dos Clubes Girl Up, centenas de meninas americanas tiveram um papel decisivo para essa aprovação. Os esforços delas foram reconhecidos por um senador americano neste vídeo. Vale lembrar que tramita por aqui um projeto de lei que quer aumentar a idade mínima para o casamento. Ninguém tem mais legitimidade para lutar por esta causa do que as meninas brasileiras.

E o Girl Up não está sozinho.

A Plan International assina o documentário Casamento Infantil, que abre essa caixa de Pandora desconstruindo mitos como, por exemplo, o de que este problema está restrito a contextos longínquos e de extrema pobreza.

Idealizado pela jornalista Viviane Duarte, o Plano de Menina conecta garotas de diversas comunidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná, com mulheres de diferentes áreas do conhecimento, por meio de workshops presenciais e de uma plataforma digital que traz temas sobre autoestima, carreira, liderança, gênero, direitos, entre outros.

E a lista segue.

Em tempos de desesperança, o 11 de outubro, Dia Internacional da Menina, resgata nosso olhar para o futuro. E meninas são o futuro. Tudo o que elas precisam é a garantia de seus direitos fundamentais. Isso assegurado, não há como conter a força do #girlpower.

Leticia Bahia é psicóloga, coordena no Brasil o Girl Up, movimento da Fundação ONU pelo empoderamento de meninas. É uma das co-fundadoras da Revista AzMina.