Renata Souza: Lute com uma preta

Foto: Equipe Renata Souza
#AgoraÉQueSãoElas

*Por Renata Souza

“Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. Essa frase célebre da Ângela Davis, filósofa e ícone da luta feminista negra, ajuda-me a levantar da cama todos os dias após a execução sumária da Marielle Franco, a quem tive orgulho de assessorar, de maneira horizontal, como chefe de seu gabinete. Eu sou moradora da favela da Maré, feminista, negra e defensora dos direitos humanos, ou seja, se eu não me movimentar, o racismo, o machismo e o classismo institucionalizados vão continuar a me ferir de morte e aos meus iguais. Por isso, estar candidata a deputada estadual pelo PSOL-RJ é vislumbrar que por meio da disputa por políticas públicas no espaço da institucionalidade podemos ser um instrumento para fortalecer as lutas por  igualdade de gênero, raça e classe.

O início da minha trajetória política, há 18 anos, é marcado pelo engajamento na luta pelo direito à vida nas favelas. Estar à frente de um jornal comunitário chamado “O Cidadão”, por quase 15 anos, deu-me um elemento fundamental na política: a escuta atenta daqueles que sofrem. Formada em Jornalismo com bolsa de 100% na PUC-Rio, tornei-me mestre e doutora na UFRJ, onde defendi a tese sobre a militarização da vida. Minha pesquisa resultou no livro “Cria da Favela”, sobre a resistência dessa mesma juventude que pode ser morta na ponta do fuzil. Afinal, no Brasil, em cada dez vítimas de homicídio, sete são jovens negros, moradores de favela e periferia. Um tema urgente diante da generalização do uso das Forças Armadas na política de Segurança Pública do Rio.

A minha primeira experiência no Legislativo fluminense foi na assessoria do deputado estadual Marcelo Freixo. Vivi por dez anos, junto de Marielle, o cotidiano da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio, presidida por Freixo. Dali saí para compor a coordenação da equipe da Marielle na Câmara Municipal, um trabalho que foi interrompido pela barbárie na política, algo inaceitável. Foram dois mandatos em Casas Legislativas que hoje são referências para o Rio, Brasil e quiçá para o mundo. Afinal, o Freixo foi o deputado que mais combateu a cúpula mafiosa do PMDB, atual MDB, no Rio. E a Marielle se tornou uma inspiração mundial sobre outra forma de fazer política.

A decisão de sair dos bastidores da política para a linha de frente —  que além da maturidade necessária no jogo da política exige muita responsabilidade — não estava nos planos antes do assassinato da Marielle. Mas esse crime político mudou tudo e trouxe um sentido de urgência ainda maior à luta das mulheres negras. O homicídio no Brasil bateu o recorde em 62,5 mil por ano, de acordo com o Atlas da Violência 2018, e houve o aumento de 22% na taxa de mulheres negras vítimas do feminicídio, em apenas dez anos, como apontou o Atlas da Violência 2017. São números que revelam a negligência das políticas públicas diante da preservação das nossas vidas. Além disso, uma das máfias que quebrou o Rio, o MDB, está se reorganizando a partir de seus herdeiros para uma reocupação da política e manutenção dos seus privilégios.

A nossa candidatura é a continuidade da resistência política encabeçada por Freixo na Alerj. Além disso, tenho como influência a própria Marielle, que após 18 anos de convivência particular e política, nos conclama a todas, sem exceção, a ocupar a política. Lugar historicamente negado para nós, mulheres, negras, faveladas e periféricas. Somos potência. A possibilidade de  barbárie política fez florescer a Primavera das Mulheres, em 2015, contra o Cunha que tentou legislar sobre os nossos corpos. Eis que uma nova Primavera das Mulheres desabrochou, agora em 2018, para barrar uma invasão fascista na Presidência da República por Bolsonaro com o #EleNão e o #OfilhoDeleTambémNão. Nosso movimento tem muita potência para mobilizar a estrutura da sociedade, mas a caneta também precisa estar em nossas mãos. Lute com uma preta, vote para deputada estadual no Rio, Renata Souza 50007.


Renata Souza é cria da Maré, Jornalista, Mestre e Doutora pela UFRJ. Candidata a deputada estadual pelo PSOL-RJ.