Ivanete Silva: Política para e com os de baixo

#AgoraÉQueSãoElas
*Por Ivanete Silva
Em um país onde a democracia não se consolidou, onde direito é visto como privilégio por uma elite que sentou no trono e de lá não quer sair, zomba e dança com guardanapos nas cabeças, que vil imagem, a do poder pelo poder, explorar, negar ou matar são partes de uma política dos governos que desmontam o público e expulsam pobre do seu lugar, da sua história. O racismo estrutural é o alinhavo da intensificação da negação a uma vida mais digna e humana, sem os ranços preconceituosos impregnados nesta sociedade.
20 anos de inanição, 20 anos de negação e aprofundamento da exclusão social, isto é o que está colocado para a população pobre do nosso país, do nosso Estado do Rio de Janeiro, se não virarmos esta história. E nós mulheres? Nós mulheres negras onde estamos?

Que estamos na base da pirâmide social mais excluída já sabemos, que estamos nos trabalhos mais precarizados e de baixos salários, que dependemos de atendimento à saúde no SUS, das creches que não existem, das escolas desmontadas e com profissionais desvalorizados, com currículo reduzido e conteúdo perseguido, nos percentuais mais altos de estupro, agressões físicas e morte, no aumento de entrada nas penitenciárias e na perseguição e execução de nossos filhos, jovens negros, são fatos de nosso cotidiano.

Olhando as propagandas neste período eleitoral, parecem tão iguais, prometem de tudo. Onde está a diferença, onde de fato nós estamos incluídas, ouvidas e representadas. Qual o projeto que vai de fato dar conta de virarmos a chave da história?

Nosso passado nos referenda e autoriza a estar neste lugar, o legado do povo negro, das mulheres negras, da população LGBT, do povo trabalhador e que vive do seu trabalho, nos legitima a disputar o lugar de construção de uma nova política, a política dos de debaixo.

Acreditamos que é possível um novo ciclo político, onde a máquina e o financiamento público estejam voltados para a melhoria da vida do povo, onde a democracia seja um exercício cotidiano nos mais diversos lugares, a voz e vez daquelas e daqueles que constroem a cidade, o Estado, deve ser ouvida e agregada na construção de um novo Rio de Janeiro, e quem melhor pode fazer isso, se não nós que somos a corpo e alma desta história.

Não mais em nosso nome, o momento é agora, é inaceitável que ainda tenhamos pessoas, negras em sua maioria, morrendo por doenças tratáveis como tuberculose, hanseníase, diabetes e outras, todas são tidas como doenças de pobres, ou melhor, de um Estado empobrecido, sugado pelas OSs, planos de saúde e a indústria farmacêutica.

Viver uma economia corroída pela agiotagem e exploração do suor e sacrifício daquelas e daqueles que levam quase duas horas para chegar ao seu local de trabalho, tendo que pegar em torno de três conduções, sem ao final ter um retorno na melhoria da sua vida, e ainda conviver com o alto preço da cesta básica em um Estado onde a agricultura familiar possui plenas condições de desenvolvimento e fortalecimento desde que não haja hábeis atravessadores entre o plantio no interior e o prato do povo na cidade.

Isto tudo e muito mais, fazem parte de uma política onde o povo trabalhador, as mulheres, negras e negros, lgbts, possam de fato ter liberdade para exercerem uma cidadania plena, onde os direitos básicos a uma vida digna e feliz sejam o cotidiano e não uma exceção, onde a defesa destes direitos seja o programa de um governo com concretude de financiamento público devolvido ao povo como políticas públicas.

Governar para o povo, com o povo, parece clichê em tempos de tanta desesperança, mas não haverá saída possível sem que este caminho seja de fato percorrido, a nossa ousadia é que agora somos nós a disputar e esse lugar, nós, mulheres negras, negros, lgbts, homens e mulheres trabalhadoras e trabalhadores que acreditam na possibilidade de outra política construída e exercida com os de baixo.

Ivanete Silva é professora, da Baixada e candidata à vice-governadora pelo PSOL