#VoteNelas: Áurea Carolina

#AgoraÉQueSãoElas

Por Uma Cidade Feminista

Por Áurea Carolina*

Assumir o termo feminismo em uma campanha política requer coragem. Coragem de desafiar as sensibilidades de possíveis eleitoras e eleitores que, influenciadas e influenciados por ideias deturpadas que são disseminadas sobre a luta das mulheres, ainda não entenderam que os feminismos são sobre todas e todos nós.

Em tempos marcados pela distopia, os feminismos nos apresentam um outro mundo possível – na contramão do modelo civilizatório patriarcal, racista e capitalista – que urge começarmos a construir. Um mundo livre das violências, exclusões e injustiças e onde, ao invés de destruir, explorar e competir, nossas sociedades buscariam cuidar de todas as formas de vida. Nessa construção, a luta por justiça e igualdade para as mulheres é um passo fundamental e imprescindível a ser dado, sem o qual não será possível avançarmos. No horizonte de nossas utopias, no entanto, vislumbramos a libertação dos corpos de um sistema que precariza e subalterniza alguns grupos, mas ainda que não igualmente, achata os sentidos, as potencialidades e as subjetividades de todos.

Trazendo a ideia de uma outra sociedade possível para a de uma outra cidade possível, conseguimos pensar em mudanças mais concretas e imediatas no cotidiano das pessoas. A cidade é o território onde vivemos, nos relacionamos e criamos, e onde temos a possibilidade maior de atuar e influenciar na formulação de políticas públicas. Para dar o exemplo do meu quintal, se as políticas públicas de Belo Horizonte fossem desenvolvidas e executadas a partir de uma perspectiva feminista, o poder público não massacraria o povo negro e pobre; as ocupações não seriam caso de polícia, mas de políticas públicas; a juventude negra não seria assassinada na periferia; as mulheres e a população LGBTIQ+ teriam acesso a uma conjunto de políticas e ações para  enfrentar a violência machista, transfóbica e homofóbica; os rios não seriam canalizados para dar lugar a mais avenidas, mais viadutos e mais carros; os viadutos já existentes não esmagariam vidas; os artesãos indígenas não seriam roubados por agentes públicos; a população em situação de rua teria uma rede estruturada de proteção ao invés de ser perseguida e exterminada; o transporte seria um direito e não um grande negócio; os trocadores seriam valorizados e não descartados, assim como os profissionais da educação e da saúde; a cultura seria um bem comum e os espaços públicos seriam ocupados pela diversidade que habita a cidade.

Foi por sonhar e estar disposta a construir essa Belo Horizonte que, no início de 2015, juntei forças com várias pessoas empenhadas em contribuir com o campo comum e diverso da resistência popular em BH, mirando também a incidência sobre o sistema político a partir da realidade e das demandas da população. Essa iniciativa deu origem às MUITAS pela Cidade que Queremos, que propõe ocupar com cidadania e ousadia as eleições municipais 2016. Lançamos 12 candidaturas que representam com seus corpos políticos lutas concretas da cidade e apresentamos à BH a novidade de uma campanha coletiva e colaborativa, construída por centenas de cidadãs e cidadãos que se voluntariaram para percorrer as ruas e a rede.

Não tenho a ilusão de que a conquista de mandatos no legislativo e no executivo são capazes de transformar as estruturas viciadas do poder. Tenho convicção, no entanto, de que é possível efetivar direitos sociais e políticas públicas que melhorem as condições de vida da população e, com isso, de darmos alguns passos na direção de uma cidade feminista, capaz de abrigar todas e todos que nela vivem.

 

*Áurea Carolina é candidata a vereadora pelo PSOL Belo Horizonte, dentro do movimento Muitas | Cidade que Queremos.