#VoteNelas: Isa Penna
Estamos a poucos dias das eleições municipais. Nossas câmaras municipais têm índices ínfimos de participação feminina. Você conhece as candidatas na sua cidade? Nos próximos dias o #AgoraÉQueSãoElas irá publicar textos de algumas candidatas de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. #VoteNelas. (Esta é uma posição política exclusiva do Blog #AgoraÉQueSãoElas.)
Mulherada Sem Medo de Lutar!
Por Isa Penna*
Uma primeira mulher de 38 anos encontrada esfaqueada e sem roupas em TO. Uma segunda mulher de 19 anos assassinada por “ciúmes” no RN. Uma terceira mulher transexual espancada no RJ. Uma quarta mulher teve sua casa incendiada com seus filhos dentro pelo ex-marido. Todas essas foram notícias encontradas em uma rápida pesquisa com a palavra “mulher” nas notícias recentes. E por trás delas há a quinta, a sexta, a centésima, a milésima mulher, que sofre diferentes formas de violência muitas vezes não notificadas. No estado de São Paulo, a cada quatro minutos uma mulher é vítima de violência de gênero. Na capital paulista, 670 mulheres denunciaram lesão corporal somente em julho de 2016, e ao longo do ano 181 denunciaram estupros.
Longe de serem obras do acaso, esses horrorizantes casos e índices de violência são resultado de uma política sistêmica de exclusão de nós mulheres da sociedade e de perpetuação do machismo. E o machismo na cidade e no país está ligado a diversas outras formas de exclusão e opressão cotidiana: de classe, de raça, de identidade de gênero, de orientação sexual. Os poderosos que comandam o nosso país – em sua imensa maioria homens-brancos-ricos-cis-heterossexuais, com nós mulheres sendo somente 5 dos 55 vereadores de São Paulo! – não têm interesse em transformar essa situação e rifam nossos direitos básicos em nome da manutenção de seus privilégios e das exclusões que os perpetuam.
Nós mulheres, trabalhadores, LGBTs, negros, jovens – a maioria da população que não faz parte do 1% com todos os privilégios – somos esmagadas e esmagados pela selva de pedra paulistana. Aumenta-se o preço de tudo e abaixa-se os salários. Aguentamos cotidianamente transportes públicos caros e de má qualidade, escolas e hospitais totalmente descuidados, pouquíssimos espaços de lazer gratuitos e violência policial cotidiana contra jovens negros da periferia. São Paulo é a cidade onde tudo é caro ou proibido, é um símbolo da desigualdade e das injustiças.
Isso é ainda mais verdadeiro para as mulheres. Temos empregos mais precarizados e salários mais baixos que homens mesmo quando estamos nas mesmas funções. O preço no transporte público pesa mais sobre nós mulheres, pois os nossos trajetos incluem levar crianças às escolas e outros locais. O déficit no número de creches, refeitórios e lavanderias públicas nos impõe duplas e triplas jornadas de trabalho. Somos nós mulheres que mais sofremos com as baixas qualidades da saúde e educação e com o déficit de habitações, já que é crescente o número de mulheres chefes de família. Seguimos sem direito a acessar nossa cidade, com ruas mal iluminadas e ciclovias e transportes públicos concentrados. Todas essas situações geram violência estrutural e são ainda piores quando se tratam de mulheres negras, transexuais, lésbicas e bissexuais, que sofrem formas próprias de exclusão machista por parte da sociedade.
É da indignação contra essa realidade e da certeza que é preciso e possível transformá-la que estamos construindo uma candidatura coletiva. Não aceitamos essa cidade da exclusão e dos privilégios. Temos certeza que a única maneira de mudar essa realidade é ocupando a política. Sabemos que essa política deve ser feita feita principalmente pelo povo nas ruas, porque a institucionalidade atual é feita para manter as exclusões sociais. Mas também temos certeza que eleger parlamentares a serviço das nossas lutas pela transformação da sociedade é uma das formas de fortalecer nosso grito coletivo.
A cidade precisa ser de todas e todos nós, precisa incluir os direitos e sonhos desses diversos sujeitos em luta pela transformação. Para ser nossa, a cidade precisa ter ruas iluminadas e ocupadas democraticamente, transporte público gratuito, de qualidade e 24h em todos os lugares, mais e melhores serviços públicos e de proteção à mulher. Assim, se for eleita, terei como primeira iniciativa a apresentação de um Projeto de Lei #SPPrasMinas, articulado com movimentos feministas, que vise criar um Fundo Municipal de Investimento pelos Direitos das Mulheres para ampliar e qualificar a Rede de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher, realizar campanhas de conscientização sobre o machismo e a violência e qualificar servidores sob a perspectiva de gênero.
Humildade é a palavra que nos guia, e por isso, estou aberta à contribuição de cada pessoa indignada e esperançosa. Em 2014, aceitei pela primeira vez o desafio de uma candidatura coletiva pelo PSOL à deputada estadual e, enfrentando meu medo e muitos assédios e opressões cotidianos, tive a felicidade de ser a mulher mais votada do PSOL em SP. Enfrentei impensáveis desafios e aprendi muito desde então, principalmente a partir da garra da mulherada, das ruas e das lutas coletivas. Minha candidatura vem justamente ecoar o grito que surgiu das ruas tomadas pelas mulheres na primavera feminista; dos atos contra o aumento da tarifa; da luta por moradia, LGBT, pela legalização das drogas, contra o extermínio da juventude negra; das escolas ocupadas por uma nova geração de lutadores e das greves que aumentam em nosso país. Dessas lutas das quais sou parte e que renovam cotidianamente minha esperança.
Hoje, estou mais fortalecida e com a convicção de que tudo isso faz sentido para fortalecer um sonho compartilhado, e de que precisamos e podemos eleger uma mulher coerente com nossas lutas, para fortalecê-las. Convido a todas e todos a conhecer mais da nossa candidatura e se juntar a esse sonho coletivo.
*Isa Penna, 25, é candidata a vereadora em São Paulo pelo PSOL e faz parte da Bancada Ativista.