Os espaços onde se dá o exercício político formal ainda são dos homens. No cenário da política brasileira – em especial da política partidária – ainda temos a predominância de personagens masculinos. O que isso significa? Como isso se manifesta? O que isso gera?Nas próximas duas semanas, o #AgoraEQueSãoElas publicará reflexões e testemunhos que nos ajudem a pensar sobre a mulher na política. Porque nós nos queremos empoderadas. E no poder.
Por Beatriz Calderon e Helen Cristine Cardoso*
No dia 28/04, depois do segundo ato unificado de Escolas Técnicas e Estaduais, nós, estudantes secundaristas, ocupamos o Centro Paula Souza. Como no processo de ocupações das escolas estaduais de 2015, nós, meninas, somos linha de frente na organização e na mobilização. Nossa pauta é muito justa: queremos comida.
Atualmente, são poucas as escolas que recebem a merenda tipo refeição (arroz, feijão, carne, salada, etc.), e no inicio do ano, essa merenda passou a ser substituída pela chamada merenda seca (bolacha de água e sal e suco) ou até a deixar de existir. Nós entendemos que comida servida (ou não) nas escolas, é essencial para permanência de muitos dos estudantes na mesma, já que a maioria de nós não pode pagar todos os dias por uma refeição. Nossas mães, em especial, contam com isso cotidianamente. Além de terem duplas jornadas de trabalho, ainda tem que se virar em duas ou três para trabalhar, garantir nossos estudos e, agora, garantir nossa comida na escola, que deveria ser um direito.
Não dá pra aprender com fome, mas o governo do estado não parece muito preocupado com isso. Os estudantes também estão sofrendo com a reorganização disfarçada, que já fechou mais de 1000 salas em todo o estado, precarizando ainda mais a educação.
A luta secundarista é independente, autônoma e horizontal. A nossa luta também é por uma sociedade mais justa, onde os nossos direitos valem mais do que o lucro deles. Nós não apoiamos nenhum governo que corte dos nossos direitos. Não estamos do lado dessa corja de engravatados e dessa velha maneira de se fazer política. Na nossa política, as mulheres tem voz. No Brasil, já temos mais de cem escolas ocupadas, divididas por quatro estados diferentes. Soubemos que, como no Brasil, as secundaristas chilenas, paraguaias e francesas também estão em luta.
Nossa luta é uma só. Estamos juntas, fazendo a luta da Juventude de Pé e defendendo nossos direitos.
No dia 30/04, segundo dia de ocupação do Centro Paula Souza, saiu o mandado de reintegração de posse do prédio. Junto com ele, foi anexado um boletim de ocorrência, com o nome completo e dados de cinco estudantes e dois professores. Essas pessoas estão sendo acusadas de “liderar a luta secundarista”, que é horizontal. Existem algumas coisas muito interessantes nesse fato. A primeira delas é: como a polícia teve acesso tão rápido aos dados dos estudantes? Como eles apontaram líderes em um movimento que é horizontal? Todos os nomes presentes no B.O já sofreram (e ainda sofrem) com a perseguição política dentro das suas escolas. Não foram nomes escolhidos ao acaso. A segunda coisa muito importante nisso é que dos cinco estudantes citados, quatro são mulheres. Nós meninas secundaristas, seguimos na luta, e nunca sairemos dela! E isso causa horror e medo aos poderosos, que agora tentam nos reprimir.
A reintegração de posse do prédio estava marcada para o dia de ontem, mas não aconteceu porque a polícia se recusou a cumprir a liminar que proibia o uso de armas (letais ou não) contra as estudantes secundaristas. Essa liminar foi revogada, então hoje de manhã a polícia adentrou o prédio para retirar os ocupantes. Quando ocupamos, nós dissemos que só sairíamos com comida no prato ou tirados pelo braço, e assim foi feito. Uma por uma das secundaristas foi arrastada para fora, sem que fosse permitida a entrada da mídia ou a presença do conselho tutelar. O prédio foi desocupado, mas a luta continua. Vamos ocupar as escolas, travar as vias e o Brasil vai parar mais uma vez! Convidamos todas as secundaristas a se somarem a nossa luta, a gente é muito jovem, a luta é muito grande e cresce a cada dia mais.
Não tem arrego! A juventude de pé: ocupa e luta!
* Beatriz Calderon é estudante do 3º Ano do Ensino Médio da ETESP (Escola Técnica do Estado de São Paulo), Helen Cristine Cardoso é estudante do 3º Ano do Ensino Médio da Escola Estadual Prof. Dário de Queiroz.