Exclusão na cidade Paralímpica
*Por Esmeralda Goulart David
Lembro de uma tarde com tantas outras, em que fui à escola trocar a fralda do meu filho Guilherme. Ele é cadeirante, tem mielomeningocele. É uma criança ativa, inteligente, comunicativa e que gosta de interagir com os outros colegas. Nesse dia, cheguei mais cedo do que de costume, entrei na sala e vi, no canto, um aluno de cabeça baixa batendo os dedinhos na mesa, enquanto todos os outros faziam exercícios em uma apostila da Prefeitura. Perguntei à professora por que ele era o único sem apostila. Ela simplesmente me disse que meu filho era preguiçoso.
Inclusão pode ser uma palavra bonita, mas a verdade é que na Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro é só uma palavra que grita vazia dentro de muitas salas. Promessas surgem, os direitos até existem mas são constantemente desrespeitados. Será que se o meu filho, assim como outras milhares de crianças, tivesse à disposição os agentes de apoio à educação especial para dar o suporte necessário isso teria acontecido? Desde 2013, existe uma lei que garante a existência desses agentes em todas as salas de aula da cidade. De acordo com ela, são necessários 3.000 agentes para que a educação seja de fato inclusiva.
Em 2014, foi realizado um concurso público para contratar os agentes. Foram cerca de 2.400 aprovados, mas a Secretaria Municipal de Educação só chamou cerca de 200. Para 2016, o orçamento do município previu a contratação de 1.000 agentes, mas nenhum outro concursado foi convocado até hoje. Durante esse tempo, alguns colégios têm contratado estagiários para apoiar alunos com deficiência, mas eles são, em sua maioria, despreparados e vêem no desempenho desta função apenas a execução das horas complementares exigidas em suas graduações.
As autoridades precisam tirar do papel o que nos foi garantido por lei: a verdadeira inclusão. Os números se multiplicam e hoje já são mais de 13.000 crianças especiais na Rede Municipal de Educação esperando a convocação de mais de 1.000 agentes aprovados e previstos no orçamento. Hoje, contamos com cerca de 140 agentes para assegurar e dar suporte a mais de 150 escolas públicas.
Meu nome é Esmeralda e sou mãe de uma criança especial que, por ser especial, deveria ser tratada como tal. Represento um número enorme de mães e famílias que vivem todos os dias a esperança do cumprimento da palavra empenhada com a chegada dos agentes de apoio à educação especial nos colégios da prefeitura.
Aprendi que na cidade sede das Paralimpíadas, a palavra inclusão anda a passos curtos, lentos e às vezes sem direção. Por isso, ao lado de outras mães e agentes de apoio à educação, criamos uma campanha para que todos aqueles que acreditam em escolas inclusivas juntem suas vozes às nossas pressionando a Prefeitura do Rio de Janeiro para que garanta o direito à educação para todas as crianças com deficiência da cidade. Junte-se a nós nessa luta!
* Esmeralda Goulart David é uma mãe dedicada a inclusão na rede pública desde 2015. Você pode apoiar a luta dela em www.escolainclusiva.meurio.org.br.